Vinylon: o tecido feito de pedras

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O vinylon é uma fibra sintética formada a partir de carvão, álcool polivinílico e calcário, e é o tecido padrão da Coreia do Norte. Foi criado em 1939 por especialistas da Universidade de Kyoto, no Japão, em uma época em que o mundo explorava alternativas têxteis. No entanto, a produção experimental do material só ocorreu em 1954, uma vez que o Japão ainda tentava se reerguer economicamente após os efeitos da Segunda Guerra Mundial. 

Os especialistas logo perceberam que o vinylon era um ótimo material a ser incorporado na indústria têxtil. O tecido possui vários benefícios que variam desde a sua produção até a sua durabilidade. 

Globalmente, o vinylon ainda é usado, embora seja menos comum na indústria têxtil. Entretanto, é a fibra mais utilizada na Coreia do Norte por sua versatilidade e resistência. Além da indústria têxtil, o tecido pode ser incorporado na produção de redes de pesca, esfregões, cordas e outros bens. 

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Características do vinylon 

O vinylon é similar às fibras de algodão, uma vez que o material é o mais absorvente de umidade entre outras fibras sintéticas. Ele é conhecido como o “tecido feito de pedra”, uma vez que sua composição contém calcário, e também possui uma boa durabilidade. 

Na Coreia do Norte, ele é usado na indústria têxtil por essa característica. Contudo, ele também é relativamente leve, resistente à temperaturas extremas, ácido, abrasões e à água. 

Atualmente, o vinylon é conhecido principalmente como o material-base das mochilas do fabricante sueco Fjällräven, o que marca como as fibras são utilizadas fora da Coreia. 

Foto de Florian Weichelt na Unsplash

Usos do vinylon

O vinylon pode ser usado na confecção de: 

  • Redes de pesca;
  • Papel; 
  • Cordas; 
  • Filtros;
  • Cimento
  • Mangueiras de freio hidráulico;
  • Geotêxteis.

E pode ser encontrado nas áreas da:

Produção de vinylon 

Durante as primeiras produções de vinylon, o time dos especialistas da Universidade de Kyoto contavam com o químico coreano Ri Sung-gi. Porém, a Coreia ainda era apenas uma colônia japonesa na época. 

A partir de 1954, a Coreia foi libertada do Japão, e quando Ri Sung-gi tentou fornecer a fibra à Coreia do Sul, o país negou a sua produção. Entre isso e os conflitos entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, o químico teve a oportunidade de morar na Coreia do Norte, onde continuou a produção do material. 

Já na Coreia do Norte, Ri Sung-gi foi um dos principais cientistas na confecção do vinylon. Lá, o plano era de que a fibra fosse parte de uma das etapas para que a nação se tornasse autossuficiente.

A produção da vinylon era prática, uma vez que desprendia o país de importações têxteis de outras nações — o país não tinha algodão insuficiente e os soviéticos não podiam ajudá-los. Assim, o vinylon virou uma alternativa.

Mudanças da produção 

Desde que virou um símbolo de autonomia na Coreia do Norte, a fibra mudou de nome na nação, tornando-se vinalon para os locais. Porém, essa não foi a única mudança derivada da transição do material do Japão para a Coreia. 

Enquanto no Japão a confecção do vinylon usava petróleo, a Coreia não tinha uma fonte do material. Portanto, a alternativa encontrada por Ri Sung-gi foi uma mistura de cascalho e carvão, que forma carboneto. A partir da formação de carboneto, o acetileno é composto — um gás altamente inflamável, mas que com uma preparação rigorosa pode ser misturado com ácido acético e polimerizado. Isso, por fim, resulta na formação de fibras. 

Com a invenção de Ri, que virou um símbolo nacionalista da Coreia do Norte, o país impulsionou a fabricação do material. Em 1961, o governo da Coreia criou e abriu a fábrica Vinylon City, que contava com 3 mil trabalhadores. 

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Queda do uso do material

Depois de alguns anos da produção inicial de vinylon na Coreia do Norte, a fábrica começou a enfrentar alguns obstáculos. O petróleo, por exemplo, usado na fabricação original do material no Japão, ficou mais barato — porém, a Coreia não quis comprá-lo para voltar com a produção inicial. 

Além disso, o uso de energia elétrica começou a apresentar problemas. A fábrica do país era fria demais para os trabalhadores, o que resultou em muitas pessoas adoecidas. 

Em 1973, boatos começaram de que o país não estava conseguindo aumentar a produção das fibras. Mesmo assim, em 83, o país investiu na criação de uma nova fábrica para a produção de vinylon, que nunca foi concluída. 

Tudo isso contribuiu para a maior queda do uso do material, que ocorreu em 1991, com o fim da União Soviética — que ajudava a Coreia do Norte. 

Com isso, o uso do material também diminuiu, sendo usado principalmente e quase exclusivamente pelo exército coreano. 

A reestruturação da produção de vinylon foi impulsionada em 2010 pelo então líder do país, Kim Jong Il. Após sua morte um ano depois do anúncio oficial, o plano só foi instituído novamente em 2017 por Kim Jong Un. No entanto, pela privacidade instituída pela Coreia do Norte, não se sabe exatamente se o país ainda produz vinylon ou se as instalações do país são utilizadas para a fabricação e armazenamento de outros produtos. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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