Companhia de Elon Musk ambiciona integrar inteligência humana e artificial por meio de implantes cerebrais
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No início do mês, a Neuralink, empresa do bilionário Elon Musk, compartilhou o impressionante vídeo de um primata jogando o game Pong com a força da mente. No Twitter, Elon Musk digitou, empolgado: “Um macaco está literalmente jogando um videogame telepaticamente usando um chip cerebral!”.
O teste atraiu ceticismo de cientistas e amantes da tecnologia, que argumentaram que sua tecnologia não é nova. Uma demonstração inicial semelhante já havia sido feita em 2002, quando um grupo de pesquisadores ajudou um macaco a mover o cursor em uma tela de computador.
A máquina se alinhava aos pensamentos do primata por meio da atividade de decodificação de algumas dezenas de neurônios no córtex motor do macaco, em um sinal detectável. O fenômeno não mostrava nada muito diferente do vídeo de Elon Musk.
No entanto, diante das crescentes preocupações que envolvem empresas privadas de mídia social monitorando e vendendo nossos dados para terceiros, algumas pessoas têm se mostrado inquietas com a tecnologia Neuralink. Estariam as interfaces de neurociência e cérebro-computador realmente avançando tão rápido quanto sugere o hype em torno da empresa de Musk?
Neuralink atrai a preocupação de cientistas e entusiastas da tecnologia
Neuralink é uma companhia de interface neural que trabalha para alcançar a “simbiose” entre o cérebro humano e a inteligência artificial, através de pesquisas que estudam como implantar microchips nos cérebros das pessoas. O teste levado a cabo com o macaco gamer foi mais uma amostra de que a intrépida empreitada é possível.
Em 2020, a companhia de Musk também fez uma demonstração pública do desempenho de seus implantes cerebrais em porcos. Desde o início da Neuralink, Musk tem afirmado que, um dia, os chips serão capazes de transmitir música diretamente para o cérebro das pessoas e conectar a mente humana a computadores poderosos, por exemplo. No entanto, até agora, os avanços são menos grandiosos do que se prometia – e ainda há as implicações éticas do processo.
Em um artigo de opinião publicado no portal STAT News, a professora Anna Wexler, especialista em Ética Médica e Política da Universidade da Pensilvânia (EUA), afirma que a neurociência está longe de entender como a mente funciona – e ainda mais longe de ter a capacidade de decodificá-la. Para ela, é muito improvável que tenhamos dispositivos de consumo precisos capazes de ler a mente em um futuro próximo.
No entanto, é difícil negar os avanços impressionantes que o Neuralink tem divulgado. “Em princípio, a ideia de um macaco (ou humano) controlando um cursor não é nova”, acrescentou Wexler. “Mas a demonstração do Neuralink parece mostrar avanços técnicos significativos, particularmente em termos de sistema sem fio e uma série de eletrodos que parecem ter sido implantados com sucesso”, disse Wexler em um relatório publicado no Observer.
Espelhando as expectativas dos pesquisadores do experimento do início dos anos 2000, Musk acredita que chips cerebrais implantáveis podem permitir que pessoas com distúrbios neurológicos graves recuperem suas vidas – e talvez até mesclem a inteligência humana e artificial para dar à luz um novo ciborgue.
“O que me preocupa no curto prazo são as alegações potencialmente falsas”, acrescenta Wexler. “Os funcionários da Neuralink são cientistas e engenheiros que trabalham no desenvolvimento do que parece ser um dispositivo legítimo para fins médicos.
No entanto, o cofundador da empresa gosta de fazer afirmações grandiosas e bombásticas sobre o potencial dessa mesma tecnologia para curar todas as doenças e permitir que os humanos para se fundam à inteligência artificial”, conclui.
Mesmo que o Neuralink de Musk alcance um grande avanço tecnológico, ainda teremos de enfrentar as complicadas implicações sociais de um dispositivo capaz de ler mentes. “Enquanto estou entusiasmado com as aplicações terapêuticas dos chips cerebrais para pessoas com problemas de movimento e memória, me preocupo com o uso generalizado de chips cerebrais no futuro”, disse ao Observer a psicóloga e filósofa Susan Schneider por e-mail.
“Sem regulamentações adequadas, seus pensamentos mais íntimos e dados biométricos poderiam ser vendidos para quem desse o lance mais alto. As pessoas podem se sentir compelidas a usar chips cerebrais para se manterem empregadas em um futuro em que a inteligência artificial pode nos superar no local de trabalho”, aponta ela.
Dois anos atrás, Schneider disse que a visão de Elon Musk de fundir cérebros humanos e computadores constituía um futuro distópico que significaria “suicídio para a mente humana”. Além disso, o teste de tecnologia invasiva do tipo Neuralink em animais atraiu fortes críticas de grupos ambientais, como o People for the Ethical Treatment of Animals (PETA).
No entanto, com poucos avanços substanciais desde o teste inicial de interface cérebro-computador em macacos, ocorrido décadas atrás, é possível que estejamos superestimando a capacidade de Musk de trazer o Neuralink ao seu potencial prometido em um futuro próximo.
Fontes: Interesting Engineering, STAT News e Observer
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