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Com a falta de chuva na nascente do Rio São Francisco, o reservatório de Sobradinho viveu a maior seca da história

Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O governo brasileiro continua adotando políticas reativas para enfrentar períodos de seca, mas nos últimos dois anos houve progresso no desenvolvimento de políticas proativas, em especial com a implantação de monitores de seca pelas agências de Águas do Ceará, de Pernambuco e da Bahia. Esta é a conclusão do estudo “Secas no Brasil: política e gestão proativas”, desenvolvido pelo Banco Mundial, Agência Nacional de Águas e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

O pesquisador do CGEE Antônio Magalhães, um dos autores da publicação, explicou que o monitoramento é o primeiro pilar para uma política proativa de enfrentamento de secas. Os monitores produzem mapas que permitem saber exatamente em quais pontos está ocorrendo e qual a intensidade da seca, evitando que investimentos e esforços sejam feitos em locais errados. “Isso afasta a questão política do ‘estado de seca’, que dá direito a investimentos nos municípios, por exemplo”, disse.

“O monitoramento [de secas] no país ainda é incipiente. Avançou, mas precisa avançar muito mais e não se pode dizer que o governo como um todo abraçou essa ideia. Até porque os governos não conseguem planejar para crises. Por natureza, o enfrentamento da seca é uma política de longo prazo. Também é preciso atuar na época da crise, mas é preciso ter programas que reduzam a vulnerabilidade. No Nordeste, por exemplo, ações como programas de revitalização de rios e recuperação de áreas desertificados reduzem a vulnerabilidade.”, explicou o especialista.

Impactos

A publicação mostra que a seca atinge o país inteiro, está em todas as regiões, mas os impactos são diferenciados. “No Nordeste, o impacto social é muito forte. No Sudeste, o impacto maior é econômico”, disse Magalhães. Ele citou o caso do norte do Espírito Santo, estado que normalmente não aparece na literatura sobre secas, mas que nos últimos dois anos foi muito afetado. “Isso levou a uma queda de 50% na produção do café conilon, muito produzido no estado e que é usado na mistura com o café arábica, de melhor qualidade. As torrefadoras usam a mistura para fazer o café comum. Geralmente o preço do conilon fica entre 50% e 60% do preço do café arábica. Mas, como caiu muito a produção, o preço chegou a ultrapassar o do arábica”, comentou.

O estudo também analisou a  crise hídrica em São Paulo nos últimos anos. “A gestão do período de seca em São Paulo nos últimos anos foi bem-feita. Adotaram medidas corretas e conseguiram ultrapassar o período sério de seca. E tiveram a sorte de que este ano não foi seco, a chuva caiu e recuperou os mananciais. Se tivesse tido seca, o desastre seria grande.”, disse Magalhães.

Sobre as secas na Amazônia, ele explicou que a situação é diferente e atinge muito o setor de transporte, “pois os rios são as estradas da região e alguns secam ou ficam tão rasos que não permitem a navegação. Na primeira parte desse ano, por exemplo, o escoamento de soja pelo rio Madeiro teve que ser interrompido em Porto Velho e só está sendo retomado agora.”, contou.

Outro impacto da seca na Amazônia é no abastecimento de água. Com a seca, a água fica distante de onde muitas pessoas vivem e “os impactos sociais e econômicos são graves.”, alerta o pesquisador.



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