Estudo revela que excreções de peixes constituem cerca de 16% do carbono total sequestrado no fundo dos oceanos
Imagem de Matthew T Rader em Unsplash
Os ecossistemas fornecem uma ampla gama de benefícios e serviços para os humanos – e um deles é a extração de dióxido de carbono da atmosfera e seu soterramento em sedimentos ou nas profundezas do oceano. Agora, uma nova pesquisa mostrou que o carbono proveniente das fezes, da respiração e de outras excreções de peixes constituem cerca de 16% do carbono total que afunda abaixo das camadas superiores do oceano.
O estudo, conduzido por uma equipe de cientistas liderada pela Dra. Grace Saba, da Universidade Rutgers, de Nova Jersey (EUA) e o Dr. Clive Trueman, da Universidade de Southampton (Reino Unido), foi publicado em fevereiro no periódico científico Limnology and Oceanography. A ideia era estimar a contribuição dos peixes para o sequestro global de carbono, um processo natural de grande importância para a retirada de gás carbônico da atmosfera.
O dióxido de carbono absorvido pelo oceano é absorvido pelo fitoplâncton (algas), pequenas plantas unicelulares na superfície do oceano. Por meio de um processo chamado bomba biológica, esse carbono orgânico pode ir da superfície às profundezas do oceano quando o material de algas ou pelotas fecais de peixes e outros organismos afundam. A migração diária de peixes de e para as profundezas também contribui com partículas de carbono orgânico, juntamente com material excretado e respirado. Outro fator é a mistura das águas do oceano.
Dados mais específicos sobre esta parte fundamental da bomba biológica da Terra ajudarão os cientistas a entender o impacto das mudanças climáticas e da colheita de frutos do mar no papel dos peixes no fluxo de carbono, que é justamente o foco do estudo. O fluxo de carbono é o movimento do carbono nos oceanos, incluindo da superfície para o fundo do mar.
Ao portal da Universidade de Southampton, Dr. Trueman, professor associado de Ecologia Marinha na mesma instituição, afirma que medir a quantidade de carbono que é capturado e armazenado por diferentes tipos de animais e plantas é muito importante, porque é urgente reduzir a quantidade total de dióxido de carbono na atmosfera terrestre.
Para ele, perturbar ecossistemas que armazenam carbono ativamente pode reverter alguns dos progressos feitos na redução das emissões de carbono. Da mesma forma, proteger esses serviços de captura e armazenamento de carbono natural mantém os sistemas de autorregulação do nosso planeta.
Ele explica que os peixes marinhos podem capturar carbono por meio da alimentação e, em seguida, exportar esse carbono para as profundezas do oceano à medida que excretam. No entanto, entender quanto carbono é despejado no fundo do oceano pelos peixes é um desafio. Este é o primeiro estudo a revisar o impacto que os peixes têm no fluxo de carbono.
Segundo a Dra. Saba, formas de carbono de peixes em águas oceânicas onde a luz solar penetra – até cerca de 200 metros de profundidade – incluem pelotas fecais que afundam, partículas de carbono inorgânico, carbono orgânico dissolvido e dióxido de carbono respirado. Seu palpite é que o carbono fecal dos peixes corresponda à cerca de 15 a 20% do carbono total liberado por eles.
Além disso, o carbono que passa por baixo da camada iluminada pelo sol é sequestrado, ou armazenado, no oceano por centenas de anos ou mais, dependendo da profundidade e do local para onde o carbono orgânico é exportado. De acordo com Saba, esse processo natural resulta em um sumidouro que atua para equilibrar as fontes de dióxido de carbono.
Fontes: Limnology and Oceanography e University of Southampton