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Número de pessoas passando fome no mundo subiu pelo terceiro ano consecutivo, passando de 815 milhões de indivíduos, em 2016, para quase 821 milhões em 2017

Guatemala

Região agrícola da Guatemala, um dos países localizados no Corredor Seco da América Central, região afetada por estiagens severas. Imagem: PMA/Francisco Fion

Pelo terceiro ano consecutivo, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) registrou um aumento no número de pessoas passando fome no mundo, que subiu de 815 milhões de indivíduos, em 2016, para quase 821 milhões em 2017. Segundo novo levantamento da agência da ONU e parceiros, a América Latina e o Caribe acompanharam a tendência global — na região, 39,3 milhões de pessoas vivem subalimentadas, valor que representa um crescimento de 400 mil.

Divulgado nesta terça-feira (11), o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018” revela que, em 2017, uma em cada nove pessoas no planeta foi vítima da fome.

Além dos conflitos armados e das crises econômicas, as variações do clima e fenômenos naturais extremos, como secas e enchentes, foram as principais causas do avanço da subnutrição. De acordo com a FAO, temperaturas anômalas em 2017 superaram as médias do período 2011-2016. Isso provocou mais episódios de calor extremo do que nos últimos cinco anos.

Outro problema foi a mudança no padrão de chuvas, com o início tardio ou precoce das temporadas de precipitações e sua distribuição desigual ao longo do próprio período chuvoso.

Na América Latina e no Caribe, os desafios ambientais para a produção agrícola podem ser observados no Corredor Seco da América Central, sobretudo em El Salvador, Guatemala e Honduras, uma das regiões mais afetadas pela estiagem associada ao El Niño no biênio 2015-16. A seca foi uma das piores dos últimos dez anos e provocou reduções significativas nas safras, com perdas estimadas entre 50% e 90%. Mais de 3,6 milhões de pessoas precisaram de assistência humanitária.

A agência da ONU estima que, em todo o mundo, 83% de todas as perdas e danos à agricultura foram causadas por secas em 2017. Inundações responderam por 17% desses impactos negativos sobre a produção de alimentos.

A pesquisa deste ano foi elaborado pela FAO junto com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo a análise, a fome avançou na América do Sul e na maioria das regiões da África, ao passo que os índices de subalimentação da Ásia, embora continuem a diminuir, apresentaram uma desaceleração no ritmo de queda.

FAO denuncia estagnação do combate à fome na América Latina

O representante da FAO para a América Latina e o Caribe, Julio Berdegué, alertou nesta terça que, na região, “estamos parados na luta contra a fome há quatro anos”. “Em 2014, a fome afetou 38,5 milhões e, em 2017, ultrapassou os 39 milhões. Estes números são um forte e claro apelo para redobrar os esforços em todos os níveis”, enfatizou o dirigente.

Na avaliação do especialista, as oscilações da subnutrição afastam os países latino-americanos e caribenhos do cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 2, que prevê a erradicação da fome até 2030.

Além do tradicional indicador de fome relatado pelo levantamento, a análise da FAO apresenta um indicador de insegurança alimentar grave, calculado a partir de pesquisas em domicílios. Para 2017, o índice foi maior do que em 2014 em todas as partes do planeta, exceto na América do Norte e na Europa. Um aumento notável foi identificado na América Latina, onde a estatística saltou de 7,6% em 2016 para 9,8% em 2017.

Desnutrição aguda e crônica em crianças latino-americanas

Apesar dos desafios, a América Latina e o Caribe possuem uma taxa muito baixa de desnutrição aguda em crianças (1,3%), o equivalente a 700 mil meninos e meninas com menos de cinco anos de idade. A proporção está bem abaixo da média global de 7,5%. Apenas uma em cada cem crianças latino-americanas e caribenhas nessa faixa etária sofre com o problema.

O atraso no crescimento de meninas e meninos — a chamada desnutrição crônica — também diminuiu na região, caindo de 11,4% em 2012 para 9,6% em 2017. O fenômeno afeta 5,1 milhões de crianças com menos de cinco anos.

Obesidade afeta 25% dos latino-americanos e caribenhos

O relatório da FAO também avalia outra faceta dos problemas de nutrição — a obesidade. Praticamente um em cada quatro habitantes da América Latina e Caribe são considerados obesos — em 2016, a condição de saúde afetava 24,1% da população regional, um aumento de 2,4% desde 2012.

“Em 2016, havia 104,7 milhões de adultos com obesidade em nossa região. Mas houve um aumento gigantesco, de mais de 16 milhões, em apenas quatro anos. É uma epidemia que, apesar das repetidas advertências da FAO e da OPAS/OMS (a Organização Pan-Americana da Saúde, escritório regional da OMS), continua descontrolada, com enormes efeitos na saúde das pessoas e na economia dos países”, alertou Berdegué.

A América Latina e o Caribe têm o segundo maior percentual de crianças com excesso de peso no mundo (7,3%) — são 3,9 milhões de meninas e meninos com sobrepeso.

A obesidade em adultos também está piorando em nível mundial: 672 milhões de pessoas são obesas, o que equivale a mais de um em cada oito indivíduos.

Acesse o relatório da FAO na íntegra.


Fonte: ONU Brasil

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