Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), escreve sobre sua experiência na COP24
O período de final de ano é, inevitavelmente, um momento no qual somos levados a avaliar nossas realizações individuais no ciclo que se encerra e renovarmos desejos e traçarmos rumos para outro que se inicia. Coincidentemente, é neste período repleto de significados que acontecem as Conferências das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Nada mais propício, diga-se de passagem, uma vez que o debate sobre os efeitos das mudanças climáticas na qualidade de vida no planeta também envolve reavaliação de condutas e comprometimento com objetivos.
A boa notícia é que a COP24 aconteceu após significativos avanços na atuação de outras partes interessadas além dos governos, tais como setor privado, academia e sociedade civil. Foi a partir da participação dessas vozes que cresceu a percepção de que é possível atingir as metas do Acordo de Paris. O objetivo em comum é o de nos mantermos bem abaixo do limite de 2 ºC de aumento na temperatura média da superfície global terrestre, conforme estabelecido no documento. E temos tecnologia para chegarmos lá.
O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), por meio de suas associadas, vem se dedicando nos últimos anos a dar a sua parcela de contribuição ao planeta na causa climática. Apresentamos na Polônia, durante a COP24, o nosso mais recente e estudo, que mostra como 38 empresas brasileiras globais estão se comprometendo no médio e no longo prazo em termos de monitoramento de emissões e de estabelecimento de metas. Foram consultadas as que já adotam a precificação interna de carbono como ferramenta de tomada de decisão, quais estão investindo em projetos de redução de emissões e quanto vem sendo mobilizado para esses projetos.
De 2015 a 2017, as empresas brasileiras executaram 1340 projetos, totalizando um investimento da ordem de US$ 85,8 bilhões. A maior parte envolveu o uso de tecnologias de eficiência energética, otimização de processos e busca por fontes energéticas de baixo carbono. Juntos, esses projetos foram responsáveis pela redução de 212,1 milhões de tCO2e no período, o que corresponde a um volume equivalente a 27% da meta total de redução assumida pelo Brasil no Acordo de Paris até 2025.
Sem dúvida, o resultado é positivo, mas merece algumas reflexões. Vale lembrar que se trata de um desempenho obtido em um cenário de baixa atividade econômica. Se não houver continuidade desses investimentos com foco no longo prazo, parte desse ganho pode ser perdido em um cenário de retomada do crescimento econômico. Isso ficou claro no estudo do CEBDS, no qual 90% das empresas analisadas demonstraram ter metas de curto prazo, ou seja, até 2025 Poucas, no entanto, já estabeleceram metas de médio e longo prazo, que se estendam até 2030 e 2050, respectivamente.
Essa questão já havia sido observada no estudo “Estratégias de Desenvolvimento de Baixo Carbono para o Longo Prazo”, realizado no ano passado pelo CEBDS em parceria com o iCS, e um caminhos apontados foi o desenvolvimento de instrumentos financeiros estruturados com base na precificação das emissões de carbono. O trabalho mostrou que a criação de um mercado brasileiro de títulos verdes pode ser um mecanismo eficaz de financiamento desses projetos, que já não deixam dúvidas sobre seus resultados.
E é com base neste último dado que volto às tradicionais resoluções de final de ano. Assim como acontece no plano pessoal, é no alinhamento das nossas ações de curto e longo prazo que alcançamos nossas maiores conquistas.
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