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Estudo mostra que florestas conseguem tolerar o calor, mas só até um determinado ponto

Imagem de Ryk em Unsplash

As florestas tropicais têm um futuro incerto diante das mudanças climáticas, mas uma nova pesquisa publicada na Revista Science sugere que elas podem continuar a armazenar grandes quantidades de carbono mesmo em um mundo mais quente. O grande problema é que para isso os países precisam limitar suas emissões de gases do efeito estufa.

Somente em suas árvores, as florestas tropicais do mundo armazenam uma quantidade de carbono equivalente a vinte e cinco anos de emissões de combustíveis fósseis. Há um receio de que o aquecimento global possa reduzir este estoque se o crescimento de árvores diminuir ou se a mortalidade de árvores aumentar, o que aceleraria as mudanças climáticas.

Uma equipe de pesquisa internacional mediu mais de meio milhão de árvores em 813 florestas ao longo dos trópicos para avaliar o quanto de carbono é armazenado por florestas crescendo sob diferentes condições climáticas atualmente. A equipe revelou que as florestas tropicais continuam armazenando altos níveis de carbono sob altas temperaturas, mostrando que em longo prazo estas florestas conseguem lidar com o aquecimento até um limiar estimado de 32 graus Celsius de temperatura diurna.

Mas essa adaptação só será possível se as florestas tiverem tempo e forem mantidas intactas. O aquecimento global também precisa ser estritamente limitado para evitar que as temperaturas globais sejam forçadas além do limite crítico.

Segundo o principal autor do estudo, Dr. Martin Sullivan, da Universidade de Leeds e da Universidade Metropolitana de Manchester, as análises revelam que até um determinado ponto de aquecimento as florestas tropicais são surpreendentemente resistentes a pequenas diferenças de temperatura. “Caso nós limitemos as mudanças climáticas, as florestas poderão continuar estocando grandes quantidades de carbono em um mundo mais quente.”

O limite de 32 graus destaca a importância crítica de cortar as emissões para evitar que muitas florestas sejam levadas para além da zona de segurança. “Por exemplo, se limitarmos a média de temperaturas globais para 2°C acima dos níveis pré-industriais, isso levaria aproximadamente três quartos das florestas tropicais para além do limite que identificamos. Qualquer aumento a mais na temperatura fará com que haja rápidas perdas de carbono florestal”, explica Sullivan.

Florestas liberam dióxido de carbono na atmosfera quando a quantidade de carbono ganho pelo crescimento das árvores é menor que a perda de carbono pela mortalidade e decomposição de árvores. O estudo é o primeiro a analisar a sensibilidade climática a longo prazo baseado na observação direta de florestas nos trópicos. A pesquisa sugere que o aumento da temperatura a longo prazo possui o maior efeito no estoque de carbono das florestas por reduzir o crescimento das árvores, e como segundo fator-chave os efeitos da seca sobre a mortalidade das árvores.

Os pesquisadores concluem que as florestas tropicais possuem uma capacidade de longo prazo de se adaptar a alguma mudança climática, em parte devido à sua alta biodiversidade, pois a longo prazo espécies mais capazes de tolerar novas condições climáticas crescem bem e substituem espécies menos adaptadas. Mas maximizar este potencial de resiliência climática depende de manter as florestas intactas.

A professora Beatriz Marimon, da Universidade Estadual do Mato Grosso, foi coautora do estudo. Ela estuda uma das florestas tropicais mais quentes do mundo, localizada na região central do Brasil. Ela aponta que os resultados sugerem que florestas intactas são capazes de tolerar alguma mudança climática. “Porém, estas árvores tolerantes ao calor também enfrentam ameaças imediatas do fogo e fragmentação. Alcançar adaptação climática significa primeiramente proteger e conectar todas as florestas que ainda restam”, afirma.

A professora Marimon nota claramente os limites para a adaptação. “O estudo indica um limiar de aquecimento de 32 graus Celsius de temperatura diurna. Acima deste ponto, o carbono das florestas tropicais reduz mais rapidamente conforme a temperatura aumenta, independentemente de quais espécies estão ali presentes. Cada aumento em graus Celsius acima do limite de 32 graus libera quatro vezes mais dióxido de carbono do que seria liberado abaixo do limite”.

As novas ideias de como as florestas tropicais mundiais respondem ao clima somente foram possíveis após décadas de trabalho de campo minucioso, frequentemente em locais remotos. O time global de 225 pesquisadores combinou observações florestais ao longo da América do Sul (RAINFOR), África (AfriTRON) e Ásia (T-FORCES). Em cada área delimitada de monitoramento, o diâmetro e a altura de cada árvore foram usados para calcular quanto carbono elas armazenam. As áreas foram remedidas em intervalos de alguns anos para ver o quanto de carbono estava sendo absorvido, e por quanto tempo esteve estocado antes das árvores morrerem.

Para calcular mudanças no estoque de carbono foi necessário identificar aproximadamente 10.000 espécies de árvores e mais de duas milhões de medições de diâmetros de árvores distribuídas por 24 países tropicais. De acordo com o Professor Dr. Simon Lewis da Universidade de Leeds e da Universidade College London: “A quantidade de carbono absorvida e estocada pelas florestas é um elemento crucial de como a Terra responde às mudanças climáticas.”

“O estudo enfatiza o porquê de colaborações de pesquisa a longo prazo serem essenciais para compreender os efeitos de alterações ambientais. Cientistas precisam trabalhar em cooperação mais do que nunca, já que monitorar a saúde das florestas tropicais do nosso planeta é vital para todos nós.”

Cortar as emissões de carbono suficientemente para manter as florestas dentro de uma zona de segurança será bastante desafiador. O autor do estudo Professor Dr. Oliver Phillips da Universidade de Leeds diz: “Manter nosso planeta e nós mesmos saudáveis nunca foi tão importante. No exato momento a humanidade tem a oportunidade única de fazer a transição em direção a um clima estável.

“Através de simplesmente não retornar ao “negócio como o de costume” depois da crise atual, nós podemos garantir que as florestas tropicais se mantenham como grandes estoques de carbono. Protegê-las das mudanças climáticas, do desmatamento e da exploração da vida silvestre deve ser a linha de frente do nosso esforço global pela biossegurança.

“Imagine se nós aproveitarmos esta chance para readequar o modo que tratamos a nossa Terra. Nós podemos manter nosso lar suficientemente fresco para protegermos estas magníficas florestas – e nos manter mais seguros.”



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