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O estudo comprovou que a dieta vegana não perde para a onívora e, desde que o aporte proteico seja adequado, os efeitos de ganho de massa e força muscular são os mesmos nas duas dietas

Imagem de Alora Griffiths no Unsplash

Um estudo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP investigou os efeitos da fonte proteica nos ganhos de massa e força muscular ao comparar veganos e onívoros que realizam treinamento de resistência. A pesquisa buscou entender se a fonte proteica faz diferença nas alterações do músculo, nesse contexto. A conclusão é que a dieta vegana não perde para a onívora e, desde que o aporte proteico seja adequado, os efeitos de ganho de massa e força muscular são os mesmos nas duas dietas.

A dieta vegana é aquela em que o indivíduo se abstém do consumo de qualquer alimento de origem animal. Já pessoas que seguem dieta onívora consomem todos os tipos de alimento, incluindo carnes.

O artigo High‑ Protein Plant‑Based Diet Versus a Protein‑Matched Omnivorous Diet to Support Resistance Training Adaptations: A Comparison Between Habitual Vegans and Omnivore é resultado do trabalho do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição. A maioria das proteínas de origem vegetal é deficiente em algum aminoácido essencial — aquele que não é produzido pelo corpo e precisamos obter por meio da alimentação — de tal forma que se convencionou chamá-las de proteínas de baixo valor biológico. Por essa razão, há uma intensa discussão sobre o fato de a dieta vegana ser realmente positiva para o ser humano.

“Essa questão sobre a qualidade da proteína vinha sendo muito discutida sob o ponto de vista mecanístico, mas não sob o aspecto clínico”, explica o professor Hamilton Roschel, um dos autores do estudo, ao Jornal da USP. Muitos estudos mecanísticos (que analisam a resposta anabólica do músculo de forma aguda e em condição laboratorial) haviam sugerido que, em quantidades iguais, a proteína animal seria mais potente para ganho muscular do que a vegetal. Olhando clinicamente para o fenômeno, a pesquisa mostrou que não há diferença, o ganho é o mesmo independente da fonte, uma vez que o aporte proteico seja atendido.

Os testes

Para indivíduos engajados em programas de exercícios, a necessidade de proteína na dieta é aumentada. Então, os participantes, tanto onívoros quanto veganos, tiveram complementação proteica na dieta por meio de suplementos. Para os primeiros, com proteína isolada de soro de leite e, para os segundos, com proteína isolada de soja. Para fins de experimentação, a complementação da dieta via alimentação seria inviável por sofrer variações diárias.

A suplementação foi necessária também para equiparar o consumo proteico entre os grupos. “A ideia era comparar o efeito da fonte proteica nos ganhos musculares em condições de igualdade. Para tal, ambos os grupos deveriam consumir quantidades de proteína suficientes na dieta, distinguindo-se, apenas, a fonte”, conta Roschel.

Todos os dias, os participantes ingeriam 1,6 grama de proteína por quilo (kg) de peso. Ou seja, se a pessoa pesa 100 kg, ela precisaria consumir 160 gramas de proteína, por dia. No total, 38 homens jovens fizeram parte da pesquisa, sendo 19 veganos e 19 onívoros. O programa de treinamento de força (comumente chamado de musculação) foi supervisionado para garantir que todos fizessem a mesma coisa. O treino foi feito ao longo de três meses, duas vezes por semana.

Para a análise dos resultados musculares, foram feitas avaliações tanto macro quanto microscópicas. A massa magra — tudo aquilo que não é gordura e osso — foi medida, no nível macroscópico.

Foi avaliada também a área de secção muscular, o que permite observar o músculo diretamente. Por último, foi feita a biópsia muscular, em que pedaços do músculo equivalentes ao tamanho de um grão de arroz são retirados dos participantes. Esses pedaços foram observados microscopicamente e áreas das fibras musculares foram analisadas, antes e depois da intervenção. “Portanto, a análise foi feita partindo do macro e chegando ao micro, antes e depois da intervenção”, explica o professor.

Onívoros x veganos

Os resultados mostraram que, para indivíduos que têm aporte proteico adequado, tanto faz a fonte. Os efeitos no ganho de massa e força muscular são os mesmos. O grande desafio é atingir a demanda proteica exigida apenas com alimentos da dieta vegana, o que não é simples.

No estudo, os indivíduos onívoros consumiam aproximadamente 80% das proteínas de origem animal. Para os  veganos, é claro que 100% delas vêm do consumo de vegetais.

“É um pouco mais difícil atingir um consumo proteico elevado só com alimentos em uma dieta vegana, por isso, as pessoas precisam de acompanhamento de um nutricionista para traçar estratégias a fim de atingir o necessário”, conclui Roschel.

O trabalho faz parte do mestrado da pesquisadora Victoria Hevia-Larrain, integrante do grupo de pesquisa, e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).


Fonte: Jornal USP


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