Como noticiado em setembro de 2015, a luz solar visível também pode causar câncer de pele através de uma forma da molécula de oxigênio excitada e altamente reativa, o oxigênio singlete, que pode reagir com o DNA e o danificar.
Logo após essa descoberta, outro estudo na mesma área apresentou importantes resultados. Divulgado também pela Revista Pesquisa Fapesp e publicado pela revista Science, a pesquisa contou com a participação de pesquisadores brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) e de pesquisadores da Universidade Yale em Connecticut (EUA), e mostrou que os efeitos nocivos e riscos luz solar podem se prolongar por até três horas após o contato direto da pele com o sol – o que indica mais uma limitação da ação dos protetores solares. O efeito, segundo eles, é o mesmo de processos que podem resultar no câncer de pele.
Normalmente, nas células produtoras de melanina, a radiação ultravioleta do sol forma os chamados dímeros (compostos químicos com duas unidades) de timina e citosina, dois componentes básicos do DNA. Os dímeros afetam negativamente o funcionamento do DNA no momento da multiplicação celular, mas por sorte, são em parte desfeitos por um controle de qualidade rigoroso das células. Já durante a replicação do DNA, algumas proteínas – as enzimas de reparo – verificam se a cópia saiu de acordo com o original, enquanto outras enzimas permanecem em alerta para soldar o DNA nos pontos em que ele se romper.
Mas após os experimentos, foi descoberto que a melanina, responsável pela pigmentação da pele, pode tanto impedir a formação dos dímeros como também levar a um efeito oposto, induzindo a formação de dímeros de pirimidina (timina e citosina) por pelo menos três horas após a exposição direta à radiação ultravioleta do sol, desse modo reduzindo a eficácia dos mecanismos de reparo da molécula de DNA e facilitando a propagação de mutações genéticas prejudiciais.
Os cientistas descobriram também que a radiação ultravioleta promove a produção de uma série de enzimas, gerando espécies reativas do oxigênio, que combinadas formam o peroxinitrito, um composto reativo que degrada as moléculas com as quais interage no interior das células. A reação entre peroxinitrito e a melanina ou seus precursores gera compostos de alta energia, que são transferidos para o DNA, formando os dímeros.
“A radiação ultravioleta apenas inicia essas reações, que podem prosseguir por horas, mesmo depois de apenas dez minutos de exposição das células ao ultravioleta”, disse uma das pesquisadoras. Essa formação de dímeros na ausência de luz é chamada de fotoquímica no escuro e havia sido proposta na década de 1970 por Emil White, da Universidade Johns Hopkins, e por Giuseppe Cilento, do Instituto de Química da USP. A fotoquímica no escuro amplia as reações lesivas ao DNA iniciadas pela radiação ultravioleta.
Com base nesse estudo, então, recomenda-se ainda mais cuidado com a exposição direta ao sol. E fica o alerta para a necessidade urgente de formulações de novos protetores solares. Uma das possibilidades propostas é o uso de ácido sórbico, um aditivo de alimentos, embora sua eficácia, dosagem e forma de aplicação ainda não tenham sido estabelecidas. Outra possibilidade, além dos filtros, é utilizar a vitamina E, já empregada em alguns cosméticos.
Fonte: Agência FAPESP
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais