Impactos ambientais das fibras têxteis e alternativas

Compartilhar

Os impactos ambientais causados pela industria têxtil dependem do tipo de fibra têxtil produzida. Entretanto, mesmo que haja diferenças nos tipos e níveis de impactos gerados conforme o tipo de fibra têxtil produzida (algodão, lã, viscose, viscose de bambu, tencel, poliamida/náilon, poliéster, entre outras) sempre há impactos ambientais envolvidos. Emissões são oriundas do transporte, da criação de animais (no caso da lã e do couro), do tipo de fibra usada (poliéster é derivada do petróleo), do gasto de água e da demanda energética. Conhecer os impactos de cada tipo de fibra têxtil é essencial para fazer a escolha que melhor se encaixe ao seu perfil, de modo a prolongar a vida útil das roupas.

Casca do coco verde pode ser aproveitada para a produção de fibras vegetais

A vestimenta é uma necessidade que acompanha a humanidade há muito tempo. Além da função social de diferenciar culturas, profissões e religiões, a roupa protege e abriga o corpo humano do vento, do frio, do sol e de outros agentes externos. No Brasil, o ramo têxtil é muito significativo e envolve diversas etapas, como produção das fibras, desfiles de moda, tecelagem, fiação, varejo, etc.

Tipos de fibras e aspectos ambientais

Cada tipo de matéria-prima passa por processos diferentes até a obtenção da fibra têxtil. E após a confecção do pano< é necessário fazer aplicação de cloro, lavagem, tingimento, entre outros processos.

Os tecidos apresentam naturezas muito diferentes. Temos os exemplos do couro, da fibra de abacaxi, do linho e de muitos outros… Mas entre todos os tipos, os mais utilizados são as fibras naturais (algodão e lã), as fibras artificiais (viscose, viscose de bambu e liocel/tencel) e as fibras sintéticas (poliamida/náilon e o poliéster). Veja como cada tipo é produzido e quais são seus impactos ambientais:

Fibra de algodão

Como é feita

O algodão dá origem a um tipo de fibra têxtil que representa mais da metade das peças de vestuário confeccionadas no Brasil.

Depois de colhido (normalmente por máquinas), ele passa por rolos que removerão suas sementes, folhas e outros materiais indesejados, separando o material em fardos. Então estas fibras serão armazenadas em bobinas e, após este processo, colocadas no tear para dar origem ao pano.

Impactos ambientais

Apesar de utilizar apenas pouco mais de 2% da área total destinada à agricultura, a produção de algodão é responsável por cerca de 24% de todo o consumo de inseticidas e 11% dos pesticidas da agricultura.

Além dos problemas de saúde causados por estes inseticidas e pesticidas, o algodão é responsável pela bissinose, uma disfunção pulmonar causada pela aspiração crônica de fibrilas de algodão.

Em comparação aos tecidos< sintéticos, o algodão consome maior quantidade de energia, principalmente pelo combustível utilizado pelas máquinas agrícolas, tratores e pela energia das máquinas de fiação e dos processos de lavagem, secagem e passagem a ferro.

Apesar de ser de origem renovável, a degradação do solo e dos lençóis freáticos pela agricultura convencional compromete sua renovação.

A fibras de algodão são recicláveis, entretanto, por conta de seu curto comprimento, o processo é dificultado. Os resíduos são aproveitados basicamente para fazer fios grossos e barbantes.

Por quilo de fibra de algodão produzido, são consumidos de sete mil a 29 mil litros de água na irrigação!

“Looop”: como funciona o novo sistema de reciclagem de roupas da H&M

Como é feita

A lã, que nada mais é que a proteção natural produzida pelo corpo das ovelhas, é retirada com tesouras ou tosadores.

A tosa feita por tosadores elétricos é mais rápida (em torno de 5 minutos), entretanto, as ovelhas ficam amarradas, se estressam e se machucam bastante.

A forma manual (com tesoura) demora mais (em torno de 15 minutos), mas as ovelhas ficam mais calmas e se machucam menos.

Após a retirada, o velo (ou tosão) passa por um processo para retirada de resíduos como sebo, terra, folhas etc. Nesse processo, a lã é lavada e é adicionado carbonato de potássio, água quente, sabão e óleos vegetais para amaciar o pelo e facilitar a penteação.

Para virar tecido, a lã é torcida e esticada, dando origem ao fio, que mais tarde receberá o tingimento.

Impactos ambientais

Devido à utilização de inseticidas sintéticos, a produção da lã causa problemas de saúde, contamina solo, água e fauna.

Além disso, a produção da lã emite significativa quantidade de gás metano (por causa das ovelhas), detergentes e graxa.

O consumo de energia, assim como na produção de algodão, também é maior do que o da produção das fibras sintéticas, principalmente pelo maior tempo requerido de secagem, necessidade de passagem a ferro e perdas no processo da produção.

A utilização de água também é significativa: para produzir cada quilo de lã são utilizados cerca de 150 litros de água.

Viscose

Como é feita

A viscose é feita a partir da celulose. Ela é produzida a partir de cavacos de madeira de árvores que possuem pouca resina ou a partir da semente do algodão. No processo, é produzida uma pasta celulósica que é colocada em contato com outras fibras e extrusada para dar origem à fibra de celulose.

Na produção da viscose, os maiores problemas de saúde estão relacionados ao manuseio e contato com a soda cáustica e com o ácido sulfúrico.

Impactos socioambientais

Em relação ao ambiente, a produção da viscose emite sulfeto de carbono e gás sulfídrico, dois gases que apresentam efeitos tóxicos significativos.

Em função da alta absorção de água, necessidade de passagem a ferro e da baixa durabilidade, a produção de viscose apresenta alto consumo de energia.

Na produção, são utilizadas como matéria-prima polpa de madeira ou línter (fibra que envolve o caroço do algodão).

Para cada quilo de viscose são utilizados 640 litros de água!

Apesar de ser biodegradável (uma vantagem ambiental), o tecido de viscose tem baixa durabilidade e a reciclagem é complicada, porque as fibras de viscose são curtas demais.

Bambucicleta: a bike feita de bambu

Viscose de bambu

Como é feita

A viscose de bambu é feita a partir da celulose do bambu.

Impactos ambientais

Ela apresenta as mesmas desvantagens da viscose comum: problemas de saúde causados pelo manuseio da soda cáustica e do ácido sulfúrico; e emissões de sulfeto de carbono e gás sulfídrico. Apesar disso, o bambu empregado na produção cresce sem a necessidade de pesticidas ou fertilizantes, necessita de menos máquinas para o plantio e consegue recuperar o solo, evitando a erosão.

Em contrapartida, a viscose de bambu tem baixa durabilidade e na produção são demandadas altas quantidades de energia e de água. Para produzir um quilo do material são necessários 640 litros de água.

Liocel/tencel

Como é feita

O liocel é uma fibra obtida a partir de celulose de origem vegetal.

Impactos ambientais

No processo de produção é utilizado o N-metyl morfholine oxide, um solvente biodegradável que é considerado ecologicamente viável por não ser tóxico e poder ser reutilizado no processo (99,5%).

Por meio de injetores de fiação, a celulose é coagulada e então a fibra é lavada, secada e posteriormente cortada.

A solução de óxido de amina proveniente da lavagem é purificada por evaporação para eliminar a água e reciclada para o processo.

Neste tipo de produção, o consumo de energia é alto e o material possui baixa durabilidade.

Por utilizar como matéria-prima o línter de algodão, o liocel carrega os impactos do plantio de algodão e demanda 640 litros de água para cada quilo produzido. E apesar de ser de fonte renovável, o liocel tem a reciclagem dificultada pelo mesmo motivo da fibra de algodão: curto comprimento das fibras.

Poliamida/náilon

Como é feita

O material poliamiamida é um termoplástico feito a partir do petróleo. Normalmente é encontrado em carpetes, calçados, relógios, airbags, barracas etc.

Impactos ambientais

A produção da poliamida tem como subproduto água, ácido clorídrico e óxido nitroso, um gás que atua no efeito estufa.

Uma contribuição deste material é para os automóveis, por ser leve, permite diminuição no peso do veículo, o que economiza combustível. Entretanto, por ser um tecido sintético, pode causar alergias.

Apesar do maior consumo de energia para produção em comparação com as fibras naturais, há uma compensação ao longo de sua vida útil devido ao menor desperdício na cadeia, possibilidade de produtos mais leves, maior durabilidade e maior facilidade de manutenção (lavagem mais fácil, secagem mais rápida e não necessita passagem a ferro).

Os resíduos da fiação são reutilizados na produção de plástico, mas, apesar de ser reciclável e possuir alta durabilidade, na produção da fibra de poliamida são necessários 700 litros de água por quilo do material.

Tecido poliéster: o que é e quais os seus impactos

Poliéster

Como é feito

Poliéster nada mais é que o polietileno tereftalato, mais conhecido como material PET. E o PET está presente nos mais diversos objetos do dia a dia: roupas, garrafas de plástico, guitarras, tintas, canoas, estofados, cintos de segurança, enchimento de almofadas, edredons, vernizes e por aí vai.

Ele pode ser obtido a partir do petróleo ou do gás natural, matérias-primas não renováveis. O poliéster das roupas é termoplástico ou termoendurecido, mas a maioria é formada por termoplásticos.

A vantagem do PET em relação às fibras naturais é que ele garante um produto final com menos rugas, maior durabilidade e retenção de cor.

Como consequência disso, o PET acaba sendo misturado às fibras naturais para melhorar a qualidade dos tecidos, unindo os benefícios da fibra sintética com a maciez das fibras naturais.

Por ser um termoplástico, o PET é reciclável. Entretanto, ao se misturar com as fibras naturais a reciclabilidade acaba sendo inviabilizada.

Impactos ambientais

Na produção do PET são emitidos compostos orgânicos voláteis (VOC) e efluentes contendo antimônio. E assim como a poliamida, a grande quantidade de energia consumida (em comparação com a produção das fibras naturais) é compensada ao longo de sua vida útil devido à maior durabilidade, maior facilidade de manutenção (lavagem mais fácil, secagem mais rápida e não necessita passagem a ferro), menor desperdício na cadeia e mais leveza.

Outro problema ambiental envolvendo o poliéster é a contaminação via microplásticos (pequenas partículas plásticas com menos de um milímetro de diâmetro), que acabam se desgarrando de suas fibras e vão parar nos oceanos, prejudicando ecossistemas. Pequenos animais se alimentam do plástico contaminado e, ao longo da cadeia alimentar, acabam propagando a intoxicação até os seres humanos (descubra mais sobre os perigos dos microplásticos).

Em um estudo, pesquisadores descobriram que, em uma simples lavagem, uma peça de vestuário de poliéster pode soltar até 1900 fibras de microplástico.

Para a produção de cada quilo de poliéster são gastos 20 litros de água. Uma quantidade bem reduzida em comparação às outras fibras.

Que tipo de fibra é mais viável ambientalmente consumir?

Primeiro, devemos lembrar que a melhor forma de evitar impactos ambientais é estender o tempo de vida útil do produto, evitando o consumo de novos itens. Para conhecer mais dicas desse tipo, confira a matéria “Como impactar menos o meio ambiente na hora de adquirir roupas?“.

Com relação ao tipo de fibra, cada um tem seus prós e contras.

Se for optar por produtos de algodão, foque nas fibras de algodão orgânico, evitando o uso de pesticidas, herbicidas, desfoliantes ou fertilizantes sintéticos. Saiba mais sobre esse tema na matéria: “Algodão orgânico: quais são suas diferenças e vantagens“.

Se optar por tecidos de viscose de bambu (que têm sido considerados como uma alternativa ecológica por serem vantajosos em relação às matérias-primas de línter de algodão e eucalipto), lembre-se: os filtros que impedem as emissões de gases poluentes deste tipo de produção são caros e a indústria têxtil acaba deslocando sua poluição (fábricas) para países onde a regulamentação é fraca, e o Brasil está nesta lista.

Da mesma forma, se preferir os tecidos sintéticos (poliamida e poliéster) pensando nas vantagens energéticas e de consumo de água que eles trazem, lembre-se também que são produtos obtidos de fonte não renovável, emitem VOCs na produção e ainda liberam microplástico no oceano quando são lavados em casa.

Se optar por tecidos de PET reciclado, prefira aqueles que não são misturados às fibras naturais para se manter a possibilidade de reciclagem.

Mas lembre-se: as fibras sintéticas – que estão presentes não só nas roupas, mas também em estofados, bolsas, lençóis de cama, tapetes, capas-de-chuva, redes de pesca etc – são a principal fonte de microplástico que contamina nossa água, ar, alimentos, cerveja e ambiente. Por isso é melhor evitá-las. Para entender mais sobre esse tema confira a matéria: “Há microplásticos no sal, nos alimentos, no ar e na água“.

A melhor maneira de diminuir o impacto ambiental das roupas que você adquire é se informar sobre cada produto que você adquire, abandonando de vez o fast fashion e adotando o slow fashion. Entenda melhor esses temas nas matérias: “O que é slow fashion e por que adotar essa moda?” e “Fast fashion: o que é, como funciona e quais impactos ambientais causa”. Uma tendência mais amigável ao ambiente são as opções de biotecido, que é um material produzido a partir de vegetais, fungos e/ou bactérias e possui características compostáveis. Saiba mais sobre essa tecnologia na matéria: “O que são biotecidos“.

Se não for possível reutilizar seus têxteis, descarte-os com consciência. Consulte quais são os postos de coleta mais próximos de sua casa no mecanismo de busca gratuito do Portal eCycle. Deixe sua pegada mais leve.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais