A longevidade é uma das grandes obsessões do ser humano. Viver mais tempo e envelhecer com saúde são dois desafios constantemente enfrentados pela medicina e pela ciência, que já conseguiram grandes avanços, com ganhos para a expectativa de vida. Mesmo assim, ainda se sabe muito pouco sobre o processo de envelhecimento em si.
O “segredo” da longevidade, na verdade, pode ser mais simples do que se imagina. Tudo indica que envelhecer com saúde está diretamente ligado a uma alimentação equilibrada e à prática de exercícios físicos.
A Academy of Nutrition and Dietetics recomenda que as pessoas ajustem seus hábitos alimentares para atender às necessidades nutricionais de seus corpos durante todas as fases da vida:
Mais que benefícios à saúde, a prática regular de atividades físicas durante toda a vida está associada a menos gastos com saúde na vida adulta. Uma pesquisa publicada no The Conversation analisou dados do estudo do Instituto Nacional do Câncer e descobriu que adultos que mantiveram ou aumentaram sua atividade física desde a adolescência até a idade adulta tiveram custos médios anuais de saúde bem mais baixos do que adultos que foram consistentemente inativos ao longo do tempo.
Ao longo da vida, além da saúde física, a saúde mental também precisa ser levada a sério. A redução do estresse, segundo pesquisadores, pode ter um impacto na saúde em geral. Práticas como meditação e yoga são boas opções auxiliares. Para garantir ainda mais bem-estar, segundo um estudo publicado no The Journals of Gerontology, discussões devem ser resolvidas no mesmo dia.
Essa conclusão partiu de uma análise de relatos de discussões contínuas e evitadas. A partir disso, os pesquisadores mediram como o incidente afetou a mudança nas emoções negativas e positivas das pessoas. Concluíram que quem sentiu que o assunto tinha sido resolvido não viveu impactos no seu bem-estar emocional. Mesmo que você dê corda à discussão ou a evite, os pesquisadores aconselham trabalhar sua resposta emocional aos fatores estressantes (tais como as discussões) e, assim, minimizar seus impactos potenciais.
Um estudo, publicado na revista Nature, conseguiu relacionar o processo de envelhecimento com a velocidade com que os mamíferos conseguem processar o lixo celular: quanto mais rápida for a faxina, maior a longevidade.
A pesquisa, liderada por Salwa Sebti e Álvaro Fernández, pesquisadores de pós-doutorado do Center for Autophagy Research da Southwestern Medical Center da Universidade do Texas, descobriu que ratos com melhores níveis de auto-fagocitose (o processo pelo qual as células descartam substâncias tóxicas ou não desejadas que prejudicam a saúde celular) vivem mais e com uma melhor saúde. Ou seja: quanto mais rápido o corpo reciclar o seu lixo, maior o tempo e a qualidade de vida.
Beth Levine, diretora do Center for Autophagy Research e uma das participantes do estudo, explica que os ratos com fagossomos (que são as células que realizam a limpeza do organismo) mais eficientes viveram cerca de 10% a mais e estavam menos sujeito a desenvolver cânceres, doenças do coração e do fígado relacionadas com o envelhecimento. A conclusão é baseada em vinte anos de estudos realizados no centro de pesquisa, o que permitiu a criação de ratos geneticamente modificados para ter um organismo mais eficiente.
O primeiro passo se deu quando o grupo descobriu a enzima beclin, que ajuda os fagossomos a acelerar sua velocidade, tendo um papel muito importante na auto-fagocitose – e consequentemente no envelhecimento. Desde então, o centro de pesquisa já conseguiu provar que a auto-fagocitose desempenha um papel fundamental para a saúde humana, sendo capaz de prevenir doenças neurodegenerativas, câncer e infecções.
O que ficou claro é que melhorar o rendimento da auto-fagocitose é uma forma importante de expandir a expectativa de vida. O processo perde performance com o envelhecimento, o que contribui para o envelhecimento em si, em um ciclo vicioso.
Agora, os pesquisadores provaram que, além de aumentar a expectativa de vida, ter um mecanismo de faxina corporal, como uma reciclagem do lixo celular, também melhora a qualidade de vida em mamíferos. A resposta veio por meio de alterações genéticas na enzima beclin, que tem seu funcionamento freado por um inibidor chamado BCL2. A alteração genética do beclin fez com que esse inibidor não conseguisse mais se ligar à enzima, permitindo um processo de auto-fagocitose mais rápido e eficiente. Ou seja: uma limpeza profunda e rápida.
A partir daí, eles criaram ratos transgênicos com essa enzima melhorada e observaram seu ciclo de vida. Como esperado, esses ratos tiveram melhores níveis de auto-fagocitose desde o nascimento em todos os seus órgãos. Esses animais tiveram um maior índice de proteção contra uma espécie de Alzheimer presente em ratos e, agora, ficou provado que a melhor limpeza celular fez com que esses animais vivessem mais e melhor.
No experimento, os cientistas deixaram um grupo de 102 ratos mutantes e 68 normais envelhecerem naturalmente. Os normais ficaram velhos e começaram a morrer aos 15 meses. Após 30 meses, todos os ratos normais estavam mortos. Já os mutantes começaram a morrer mais tarde, aos 22 meses, e todos estavam mortos aos 40 meses.
O resultado indica que as alterações realizadas no beclin aumentaram a sobrevida dos ratos em cerca de 5 meses, o equivalente a um aumento de 16% na duração da vida. Em um humano com expectativa de vida de 80 anos, isso seria equivalente a viver cerca de 12 anos a mais.
O estudo aponta um caminho importante para a saúde humana e para o desenvolvimento de novas drogas capazes de melhorar nosso mecanismo de reciclagem celular. Da mesma forma que a ciência pode ajudar a melhorar nosso mecanismo de faxina interior, também o cuidado com a quantidade de lixo que colocamos para dentro do nosso corpo continua sendo importante. O grupo de pesquisadores agora deve trabalhar em remédios capazes de melhorar o mecanismo de auto-fagocitose, em busca de ganhos para a humanidade em qualidade de vida e longevidade.
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