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Ossada de jovem mulher pré-histórica descoberta no Peru derruba “mito do homem caçador”

Imagem de mohamed Hassan por Pixabay

Uma jovem mulher enterrada há 9 mil anos na região dos Andes, no Peru, acaba de derrubar um consenso que perdurou por séculos entre cientistas e historiadores. Até agora, acreditava-se que a divisão do trabalho nos primeiros grupos humanos estabelecia homens como caçadores e mulheres como coletoras. Mas pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, encontraram evidências de que cerca de metade das mulheres pré-históricas eram, de fato, caçadoras.

Batizado de Female hunters of the early Americas (“Mulheres caçadoras das primeiras Américas”, em tradução livre) e publicado na Science Advances, o estudo revela recentes descobertas arqueológicas que destronam o “mito do homem caçador”. Para Randy Hass, professor assistente de Antropologia e principal autor da pesquisa, as novas evidências são particularmente oportunas para o debate contemporâneo sobre gênero e divisão do trabalho.

Hass ressalta que a noção equivocada do trabalho em sociedades de caçadores-coletores pode reforçar no senso comum a crença de que desigualdades de gênero – como diferenças de salário, discriminação sexista e posição social – são, de alguma forma, naturais ou biológicas. As novas descobertas evidenciam, no entanto, que a divisão sexual do trabalho nessas populações era bem distinta, e provavelmente muito mais igualitária, do que se pensava até agora.

Como uma jovem mulher derrubou o mito do “homem caçador”

Em 2018, durante escavações em um sítio arqueológico no Peru, os pesquisadores encontraram uma sepultura antiga que continha um kit de ferramentas com lanças, flechas e outros artefatos associados à caça de animais. Evidências anteriores apontam que objetos enterrados junto aos humanos pré-históricos tendem a ser os mesmos que os acompanharam durante a vida, segundo os pesquisadores.

Análises posteriores feitas pelo osteologista da equipe, James Watson, da Universidade do Arizona, concluíram que a ossada encontrada pertencia, na verdade, a uma mulher. E mais ainda: uma mulher jovem, entre 17 e 19 anos de idade. A faixa etária foi determinada pela investigação de proteínas presentes nos dentes da caçadora, conduzida pelos pesquisadores Tammy Buonasera e Glendon Parker, da Universidade da Califórnia.

A descoberta da sepultura levou a equipe a se questionar se ela faria parte de um padrão mais amplo de mulheres que se dedicavam à caça ou se seria um caso de exceção. Analisando os registros publicados de sepultamentos entre o final do Pleistoceno e o início do Holoceno nas Américas do Norte e do Sul, os pesquisadores identificaram 429 indivíduos em 107 locais.

Desses indivíduos, 27 estavam associados a ferramentas de caça de grande porte, dividindo-se em 11 mulheres e 15 homens. A amostra foi suficiente para garantir que, provavelmente, a participação feminina na caça pré-histórica era maior do que se imaginava. Além disso, a análise identificou o enterro da caçadora Wilamaya Patjxa como o primeiro caso das Américas.

Estudo revela um padrão mais amplo

Os estudiosos tentam entender há muito tempo até que ponto o comportamento de gênero contemporâneo existia no passado evolutivo de nossa espécie. Vários estudos apoiam a alegação de que os construtos modernos de gênero muitas vezes não refletem os do passado. Estudo anterior revelou que tanto mulheres quanto homens em sociedades etnográficas de caçadores-coletores governam as decisões de residência. E a descoberta de uma mulher guerreira Viking destaca ainda mais as controvérsias das definições de papéis de gênero no passado.

Insights teóricos sugerem que as condições ecológicas vividas pelas primeiras populações de caçadores-coletores teriam favorecido atividades de caça com ampla participação tanto de mulheres como de homens. O novo estudo e a soma de observações arqueológicas anteriores sobre os primeiros sepultamentos de caçadores-coletores apoiam essa hipótese, revelando que as primeiras fêmeas nas Américas eram caçadoras de grande porte.

A análise estatística mostra que de 30% a 50% dos caçadores nessas populações eram mulheres. Esse nível de participação contrasta fortemente com a noção que se tinha até agora sobre caçadores-coletores pré-históricos e até mesmo com sociedades agrícolas e capitalistas, nas quais a caça é uma atividade predominantemente masculina, com baixos níveis de participação de mulheres.

Embora a pesquisa responda a uma velha questão sobre a divisão sexual do trabalho nas sociedades humanas, ela também levanta algumas novas. A equipe ainda deseja compreender como a divisão sexual do trabalho e suas consequências em diferentes épocas e lugares mudaram entre as populações de caçadores-coletores nas Américas.



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