Pesquisadora Xia Zhu explica ao The Conversation por que o plástico está intimamente ligado à questão climática
Poluição por plástico e mudanças climáticas são duas questões ambientais proeminentes de nosso tempo. O plástico já foi considerado uma invenção milagrosa que tornava a vida das famílias mais simples.
No entanto, assim como a exploração de combustíveis fósseis levou às mudanças climáticas, o uso insustentável de materiais plásticos vem fomentando uma catástrofe ambiental global. Atualmente, a poluição por plástico afeta todas as partes do planeta, desde lagos remotos nas montanhas até os oceanos – e o próprio ar que respiramos.
O consumo insustentável de recursos não renováveis é a raiz comum de ambos os problemas e, por baixo da superfície, existem muitas ligações entre os dois.
O plástico faz parte do ciclo do carbono
Para entender melhor como as partículas de plástico se movem pelo meio ambiente, os cientistas deveriam investigar seu transporte, da mesma forma que fazem com o nitrogênio, o carbono e a água.
Para tanto, eles devem adotar formalmente a terminologia usada para estudar esses ciclos biogeoquímicos, incluindo “reservatórios”, que são locais de armazenamento, e “fluxos”, que descrevem o movimento de substâncias de um lugar para outro ao longo do tempo. Isso nos ajudará a entender os mecanismos de transporte e o destino da poluição do plástico no meio ambiente, que são as principais lacunas neste campo hoje em dia.
Na verdade, todo o plástico que já foi produzido faz parte do ciclo do carbono. No geral, foram produzidas sete gigatoneladas – ou sete bilhões de toneladas – de plástico, oriundas principalmente de produtos químicos extraídos do reservatório de carbono fóssil.
Esse resultado não é muito diferente das 14 bilhões de toneladas de carbono emitidas para a atmosfera todos os anos a partir do mesmo reservatório, como resultado das atividades humanas.
O plástico transporta o carbono de diferentes maneiras. Ele pode, por exemplo, ser incorporado a organismos vivos ou assentar no fundo do oceano como agregados de plástico e matéria orgânica.
Além disso, também pode liberar gases do efeito estufa em todas as fases de seu ciclo de vida, desde a produção e o transporte até o descarte de resíduos. Cientistas e governos devem investigar como a poluição por plástico transporta carbono, porque a redistribuição de nutrientes tem implicações para a subsistência dos ecossistemas e o bem-estar dos organismos vivos.
Como os polímeros plásticos são persistentes, quase todas as peças de plástico que já produzimos ainda estão em algum lugar deste planeta. Isso sugere que a poluição por plástico está na mesma escala que os processos globais de transporte de carbono, também da ordem de gigatoneladas.
A principal conclusão é que a poluição do plástico tem seu próprio ciclo e também pode desempenhar um papel fundamental no ciclo do carbono – o movimento do carbono entre diferentes reservatórios, como a atmosfera, o oceano e os organismos –, cuja análise é muito relevante para o campo das alterações climáticas.
Dois lados da mesma moeda
Vários artigos recentes de jornalistas e cientistas enquadraram o problema da poluição do plástico como uma distração do problema da mudança climática. Segundo esses especialistas, a questão da poluição do plástico poderia acabar competindo com as mudanças climáticas por financiamento e atenção, atrasando ações que seriam mais urgentes.
Eu discordo desse ponto de vista. A pesquisa mostra que o problema do plástico não é independente das mudanças climáticas.
Plástico e clima são as duas faces da mesma moeda: a maioria dos polímeros plásticos é feita de matérias-primas petroquímicas, e suas matérias-primas para síntese são etileno e propeno. Esses compostos são derivados da nafta, um dos vários produtos químicos refinados do petróleo. O que mais é refinado do petróleo? Gasolina, o combustível fóssil que queimamos para obter energia e que emite gases do efeito estufa.
Esses compostos irmãos são usados de maneira diferente, mas têm uma origem comum e instigam os próprios problemas em questão. Quando a demanda por petróleo cai, as empresas aumentam sua produção de plástico.
Quando a demanda por plástico cair, as empresas de combustíveis fósseis podem se inclinar a mudar sua taxa de produção novamente. Deixar de reconhecer as conexões íntimas entre essas questões não apenas torna o enfrentamento dessas questões ineficiente, mas também pode minar os esforços em ambas as frentes.
Seguindo em frente
Após muitos anos de esforços de pesquisadores, ativistas e formuladores de políticas em todo o mundo, estamos começando a ver uma grande diferença na atitude do público em relação a essas questões. Na frente climática, a adoção do Acordo de Paris e a energia do movimento jovem me enchem de otimismo.
No que se refere ao combate à poluição por plástico, um acordo internacional da ONU para limitar as emissões de plástico pode estar no horizonte.
Ao reconhecer as conexões entre essas questões, vejo apenas benefícios. Os planos climáticos devem reconhecer as emissões de gases do efeito estufa produzidas pelos plásticos e estabelecer ações para administrar melhor o problema.
Por exemplo, o plano climático mais recente do Canadá inclui a proibição de itens de uso único naquele país e reconhece a importância da transição para uma economia circular. Da mesma forma, os planos de poluição do plástico podem descrever os benefícios para a estratégia climática daquela cidade, estado ou país ao mitigar a produção de plástico.
No futuro, devemos manter isso em mente e lidar com as duas questões juntas. As oportunidades para fazer isso são inúmeras.
* Xia Zhu é mestra em Ecologia e Biologia Evolutiva, com PhD em andamento em Ciências Físicas e Ambientais pela Universidade de Toronto. As opiniões expressas neste artigo não necessariamente refletem a opinião do Portal eCycle.
Este texto foi originalmente escrito por Xia Zhu para o The Conversation e traduzido por Isabela Talarico para o Portal eCycle de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original