As queimadas deste ano deixaram um cenário desolador no Pantanal, com destruição de 30% do território total, além do número ainda não calculado de animais mortos. Muitos dos que escaparam do fogo, sobreviveram com auxílio de voluntários e de instituições privadas e governos locais que concentraram esforços no resgate e recuperação.
Pelo menos 30 animais resgatados das queimadas em diversas regiões de Mato Grosso do Sul foram levados ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), pertencente ao Instituto de Meio Ambiente do estado (Imasul/Semagro), em Campo Grande, durante o período mais crítico das queimadas, de julho a setembro. Na lista, onças-pintadas, lobinhos, tamanduás, araras, anta, cotia e gavião-telha que habitam o Pantanal e também de áreas de Cerrado.
O período, segundo o médico veterinário Lucas Cazati, já é de aumento natural da demanda de atendimento no Cras, por ser época de reprodução, mas os incêndios trouxeram novo fator, que é a gravidade dos casos: os animais feridos chegaram com queimaduras, de 2º e 3º graus e acometidos de pneumonias aspirativas, decorrente da inalação de fumaça.
O biólogo Allyson Favero acrescenta à lista as vítimas secundárias do fogo. “Tem animais que foram abandonados no meio do incêndio, mães que se dispersaram dos filhotes e aí foram resgatados para que se possa dar continuidade ao desenvolvimento deles”.
Para auxiliar na recuperação desses animais, o WWF-Brasil doou materiais e medicamentos que já estão sendo usados pelos profissionais que prestam serviço no Cras. São 15 caixas de transporte de animais, 19 equipamentos de captura de animais, entre cambões, ganchos e pinções, além de 35 caixas de analgésicos e anestésicos.
Cazati disse que parcerias como a firmada com o WWF-Brasil são vitais para o desenvolvimento do trabalho de recuperação de animais silvestres em Mato Grosso do Sul. “Este material vai ser usado de beija-flor a onça-pintada, tudo isso contribui na reabilitação de cada um deles, no trabalho final que é a soltura e a devolução desse animal ao seu habitat natural”.
Alguns medicamentos já foram usados no tratamento da onça-pintada resgatada na Serra do Amolar, no dia 3 de novembro. O felino segue em recuperação, submetido ao tratamento de aplicações de ozônio, com propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes. A previsão é que ele seja liberado na natureza em 2021.
O Cras, criado em 1987, está localizado na área do Parque Estadual do Prosa, unidade de conservação estadual de proteção integral, dentro do perímetro urbano de Campo Grande.
O centro recebe animais apreendidos em operações de combate ao tráfico, atropelados em rodovias e os entregues voluntariamente pela população. Desde que foi criado, recebeu cerca de 300 espécies, entre aves, répteis e mamíferos. Atualmente, cerca de 200 animais estão em tratamento no local.
Allyson Favero explica que os animais são tratados para que possam voltar ao ambiente natural. Porém, há casos em que não podem ser liberados para soltura, por conta do tipo de lesão ou por não terem desenvolvido o instinto necessário à sobrevivência: neste caso, podem ser encaminhados a projetos de conservação da espécie, instituições de pesquisa, criadores ou zoológicos.
Um exemplo é a onça-parda macho carinhosamente chamada de “Oncelmo”, de cerca de 1 ano de idade e que foi levada ao centro ainda filhote, resgatada de um canavial em Costa Rica (MS). Dócil, pode ser presa fácil na natureza e provavelmente deverá ser encaminhada a um zoológico.
A doação de insumos faz parte da Iniciativa “Respostas Emergenciais em Campo”, iniciado em 2019 na Amazônia e ampliado este ano para atender o Pantanal, por conta do aumento das queimadas, a partir de julho.
O analista de conservação do WWF-Brasil, Cassio Bernardino explicou que o Cras foi escolhido a partir de lista de potenciais parceiros que poderiam operacionalizar recursos e dar resposta rápida. “Atendemos primeiro o que era mais urgente; agora queremos ver outras necessidades que sejam estratégicas e possam facilitar o trabalho de quem está na ponta”, disse.
Em novembro, Bernardino e Osvaldo Barassi Gajardo, também analista de conservação do WWF-Brasil, estiveram no Cras e acompanharam o trabalho desenvolvido pela equipe do centro. Também avaliaram a possibilidade de doar uma nova remessa de material para atender a demanda. “Ver o trabalho que eles desenvolvem, ver materializado o esforço de muitas pessoas, fortalece mais nossa relação e nos dá perspectiva de continuar apoiando”, disse Gajardo.
O envio de material ao Cras faz parte de um dos quatro eixos do projeto, também desenvolvido com o apoio de diversos parceiros como a Ong Ecoa (Ecologia em Ação) e PrevFogo.
Gajardo disse que mais ações emergenciais de apoio do Pantanal e seus habitantes ainda serão implementadas nos próximos seis meses, chegando à época em que os incêndios voltam a ser registrado com intensidade no país.
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