Aprenda porque pensar cansa e o que provoca a fadiga no cérebro
Afinal, pensar cansa? Sentir-se cansado após longas horas de trabalho ou estudo é comum no dia a dia. Querer relaxar, sentar no sofá e não fazer nada por algumas horas é um hábito normal mesmo em pessoas que não exercem trabalho físico. Mas por quê?
Os trabalhos físicos, principalmente os mais árduos, exigem altos níveis de energia e, consequentemente, causam mais cansaço no final do dia. Um dos tratamentos da insônia, por exemplo, é o exercício físico — que gasta toda a energia consumida, deixando a pessoa mais suscetível ao cansaço, que levam a uma melhor noite de sono.
Já trabalhos menos exaustivos fisicamente não exigem energia física, mas podem oferecer outro tipo de cansaço — a exaustão mental. Caracterizada por “pensar demais”, a exaustão mental é um sentimento extremo de cansaço que pode resultar em apatia, cinismo e irritabilidade.
Como isso acontece?
Especialistas acreditam que o tipo de cansaço resultante de trabalhos mentalmente exaustivos pode ser uma resposta aos níveis de glutamato no cérebro. O glutamato é um metabólito, ou seja, um produto do metabolismo resultante do consumo de alimentos. Além disso, ele é o neurotransmissor mais abundante no cérebro.
Embora seja essencial para a comunicação entre células do cérebro, seu excesso resultante de tarefas mentalmente difíceis no córtex pré-frontal lateral pode afetar o funcionamento dessa parte do cérebro.
O córtex pré-frontal lateral é responsável por diversas tarefas, como:
- Inibição;
- Atenção;
- Planejamento;
- Execução de tarefas;
- Memória de trabalho.
Isso pode explicar porque pensar cansa, uma vez que, após realizar tarefas mais exaustivas, o cérebro é inclinado à execução de coisas mais simples e gratificantes, como o relaxamento.
Pesquisa
A pesquisa responsável pela associação entre o glutamato e o cansaço ao pensar foi publicada pela Current Biology em 2022. Ela concluiu que um intenso trabalho cognitivo prolongado faz com que subprodutos potencialmente tóxicos se acumulem nessa parte do cérebro.
De acordo com os pesquisadores, a fadiga após um trabalho mental exaustivo é um sinal para que o cérebro foque em outra tarefa mais simples para preservar a integridade da função cerebral. Desse modo, foi possível assimilar que pensar cansa e promove a fadiga.
O estudo foi feito analisando dois grupos de pessoas que foram instruídos a dois tipos de tarefas, uma mais difícil e tediosa e outra mais fácil. Foi concluído que indivíduos que trabalharam por seis horas nas tarefas mais difíceis tinham um nível maior de glutamato no córtex pré-frontal.
Ao final do estudo, esses mesmos participantes também eram mais propensos a optar por uma recompensa financeira menor e facilmente conquistada do que uma recompensa maior, mas que demoraria mais e envolveria mais esforço.
Os resultados foram obtidos através de uma espectroscopia de ressonância magnética, que possibilitou a análise da química cerebral de cada participante durante e após a realização das tarefas cognitivas.
Existe solução?
Após a descoberta que sim, pensar cansa, é compreensível procurar algum método para driblar esse acúmulo de glutamato no cérebro. Entretanto, os especialistas da pesquisa acreditam que isso ainda não é possível.
O único método que poderia ajudar é exatamente o que fazemos após um dia cansativo de trabalho — o relaxamento e uma boa noite de sono. Durante esses momentos é que o glutamato é eliminado do organismo.
Por outro lado, a descoberta pode ser uma forma de monitoramento do burnout, que muitas vezes é resultado de trabalhos exaustivos ou mais entediantes.