Criação do Parque Nacional de Yaguas protege área amazônica de quase 900 mil hectares de florestas intactas, rica em biodiversidade e lar de populações nativas
Enquanto países como o Brasil e os Estados Unidos parecem ter descuidado da questão ambiental, o Peru aprovou a criação do Parque Nacional de Yaguas, localizado no departamento amazônico de Loreto, na região nordeste do país (próximo da fronteira com a Colômbia). Com a medida, a área de 868.928 hectares passa a ser protegida dos avanços da exploração comercial da biodiversidade, do desmatamento e das pressões do agronegócio. No total, o Peru passa a ter 21% de sua biodiversidade amazônica protegida.
O território de Yaguas é tradicionalmente habitado por diversos grupos nativos da região do Putumayo, na área fronteiriça entre a Colômbia e o Peru. Do lado peruano, esses indígenas estão representados por comunidades nativas assentadas no rio Putumayo e duas no rio Yaguas. Essas comunidades pertencem aos grupos étnicos Quichua, Bora, Ticuna, Huitoto e Yagua. Estes últimos deram nome ao novo parque.
A demanda pela criação de um parque em Yaguas partiu dos próprios indígenas, que consideram o território sagrado e se preocupavam com prejuízos ocasionados pela extração ilegal de madeira, a caça e, mais recentemente, pelas dragas dos garimpeiros que já penetraram no rio Yaguas. Desde que propuseram considerar parte do espaço como área protegida, todos os grupos foram cuidadosamente contatados e, por isso, acompanharam o processo de perto.
O vale do Yaguas passou a ser bem mais conhecido graças a estudos realizados em 2010 por especialistas do Chicago Field Museum of Natural History, logo complementados pelo Instituto do Bem Comum (IBC), a Sociedade Zoológica de Frankfurt e o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas pelo Estado (Sernanp), dentre outros.
Eles concluíram que em Yaguas se encontra a maior diversidade de peixes locais e migratórios de água doce já registrada no país, com 337 espécies, ou seja, sete vezes mais que no Parque Nacional do Manu, onde as pesquisas se estenderam por várias décadas. Nos primeiros inventários, registraram 393 aves, mas, agora, estimam que existam cerca de 500 espécies. Inicialmente, acharam 128 anfíbios e répteis e, agora, reconhecem 110 espécies de anfíbios e 100 de répteis. Os mamíferos registrados já somam 160 espécies. E de 948 espécies de plantas inicialmente inventariadas, agora, estimam a presença de mais de 3 mil espécies.
O processo para o reconhecimento de Yaguas como unidade de conservação começou formalmente em 2011, quando se demarcou uma zona reservada (uma categoria provisória) e se instalou uma comissão de categorização, formada pelo mencionado Sernanp, todas as comunidades nativas, o governo regional de Loreto, as municipalidades afetadas e o Ministério de Agricultura. Em 2016, o Ministério de Energia e Minas, a Marinha de Guerra, o Serviço Florestal e de Fauna Silvestre e as Federações de comunidades nativas de Ampiyacu, Bajo Putumayo e da Frontera Putumayo foram incorporadas às negociações.
Mapa: The New York Times. Fonte: Global Forest Watch
Participaram ativamente do processo de consulta prévia 29 comunidades nativas, das quais 23 se expressaram claramente a favor do futuro parque. Muitos estudos se realizaram em conjunto com a população local dos arredores da área escolhida para determinar a viabilidade social e econômica, a categoria de manejo mais adequada e seu impacto como sumidouro de carbono, pois no local existe uma turfeira de grandes proporções. O Ministério da Cultura, assim como a Defensoria do Povo, supervisionaram o processo e aprovaram as decisões.
O parque é considerado muito valioso em termos ecológicos, pois permite viabilizar um corredor biológico contínuo de bosques que facilita o fluxo genético na bacia do Putumayo, desde os parques Rio Puré, Cahuinari e Amacayacu, na Colômbia, até as áreas de conservação regional Maijuna Kichwa e Ampiyacu Apayacu, no Peru.
Com esta nova unidade de conservação, o Peru reúne 76 áreas públicas de proteção nacional sobre 19,5 milhões de hectares. Incluindo as de caráter regional e particular, somam 22,6 milhões de hectares. Pensando apenas na Amazônia, existem quase 15 milhões de hectares protegidos, ou seja, 20,7% da região estão submetidos a manejo conservacionista. Nessa região, existem 13 parques nacionais, a categoria mais importante. Os maiores são Purus (2,5 milhões de hectares), Manu (1,7 milhões de hectares), Serra do Divisor e Cordilheira Azul (ambos com 1,4 milhões de hectares), Bahuaja Sonene (1, 1 milhões de hectares) e, agora, Yaguas. Na categoria de reserva nacional, a maior área protegida é Pacaya-Samiria, com 2,1 milhões de hectares. O Peru começou a se preocupar com a preservação de sua biodiversidade apenas nos anos 1960, mas tem caminhado bem.
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