População de animais das Américas Central e do Sul caiu 89% desde 1970

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Relatório Planeta Vivo mostra que 75% das terras do planeta já foram impactadas pela ação humana

Arara em Cavalcanti (GO). Imagem: Caroline Maiara de Jesus/CC-BY-SA-4.0

O declínio no tamanho das populações de animais vertebrados chegou a 60% em 40 anos. Nos trópicos, principalmente nas Américas Central e do Sul, a redução chega a 89% desde 1970. É o que aponta o Relatório Planeta Vivo 2018, que foi lançado nesta terça-feira (30) pela organização não governamental WWF – Fundo Mundial para a Natureza.

Segundo o coordenador do programa Cerrado e Pantanal da WWF, Júlio César Sampaio, a região tropical, próximo à Linha do Equador, concentra a maior quantidade de vida do planeta, em função da dinâmica de temperatura e das florestas, além de ter as maiores áreas de uso do solo e dos recursos naturais.

“É onde estão localizadas as maiores áreas cultivadas para produção de alimentos. Essa produção, regada a uma forma intensa do uso da terra, tem afetado drasticamente esses ambientes e consequentemente provocado o declínio dessas populações que, nessa faixa que abrange a parte central e América do Sul, o relatório mostra que chega a 89%. É uma das regiões mais pressionadas em função desse uso intenso dos recursos naturais.”

Ele explica que, no Brasil, o principal problema é o desmatamento, que chegou a 20% na Amazônia e já passou de 50% da cobertura original no bioma Cerrado, impactando na capacidade hídrica do país, já que a área abriga importantes mananciais que abastecem as bacias hidrográficas de todo o país.

Para Sampaio, o país que tem a maior biodiversidade do planeta, além da maior área de florestas tropicais e a maior quantidade de água doce do mundo, precisa assumir o protagonismo na área ambiental e implementar as metas da convenção da Organização das Nações Unidas para a biodiversidade.

“As metas precisam ser revistas a partir de 2020 e é importante que os países signatários de fato internalizem esses acordos dentro de suas políticas internas. Por exemplo, um dos temas é a necessidade de ter pelo menos 17% dos ecossistemas em áreas protegidas, que são importantes para a conservação dessa biodiversidade. O Brasil tem ainda um grande percurso nesse aspecto. No cerrado só 8% do território é protegido, no pantanal são apenas 2% de áreas protegidas”.

O relatório aponta que entre as espécies brasileiras ameaçadas de extinção em função da perda do ambiente natural estão a jandaia-amarela (Aratinga solstitialis), o tatu-bola (Tolipeutes tricinctus), o muriqui-do-sul (Brachyteles aracnoides) e o uacari (Cacajao hosomi). A degradação ambiental também ameaça o boto (Inia geoffrensis), que já mostra tendência de redução populacional.

Planeta Vivo

Sampaio explica que o relatório da WWF é um compilado de informações científicas, que utiliza bases de dados de 19 organizações internacionais e envolve mais de 50 pesquisadores. O trabalho apresenta, a cada dois anos, o índice de vida do planeta.

“Nos últimos anos, esse relatório tem mostrado um grande declínio dessas formas de vida, essas espécies que vêm desaparecendo em função principalmente do uso que o homem faz da superfície do planeta e da forma como nós exploramos os nossos recursos naturais.”

O Índice do Planeta Vivo (LPI) mede, desde 1970, as tendências em 16.704 populações, representando 4.005 espécies de vertebrados. “A nível global, esse declínio de espécies desde o início do monitoramento mostra que cerca de 60% da biodiversidade no planeta vem desaparecendo, incluído animais, plantas e seres invertebrados. Toda a biodiversidade vem sofrendo com a forma com que o planeta vem sendo modificado, principalmente através das atividades humanas ao longo desses anos”, explica o coordenador.

Os dados mostram que 75% das terras do planeta já foram impactadas pela ação humana; as populações de água doce tiveram redução de 83% desde 1970; o habitat para os mamíferos teve uma redução de 22%; o risco de extinção tem acelerado para diversas espécies; e a quantidade de biodiversidade original caiu de 81,6% em 1970 para 78,6% em 2014.

Segundo o relatório, os seres humanos já ultrapassaram os limites de segurança no que se refere às mudanças climáticas, à integridade da biosfera, aos fluxos biogeoquímicos de nitrogênio e fósforo, além das mudanças no sistema terrestre. “A saúde planetária, a natureza e a biodiversidade estão em declínio acentuado, prejudicando a saúde e o bem-estar das pessoas, espécies, sociedades e economias em todos os lugares”, alerta o texto.

Sampaio destaca que já existem tecnologias em todas as áreas de atividade humana que podem proporcionar uma forma mais amigável de se relacionar com os recursos naturais e com a biodiversidade e que é possível adotar modelos de boas práticas já desenvolvidas e comprovadas cientificamente para aumentar a produção e conservar o meio ambiente. Ele cita como exemplo a produção de alimentos.

“Na alimentação, hoje cerca de 40% do que é produzido globalmente é jogado fora, durante a produção, o transporte e dentro das nossas casas. Então, se a gente mudar só esse componente, como a gente trata o alimento desde a sua origem até o nosso prato, sem dúvida a gente vai ter um ganho significativo na quantidade de alimentos que é produzido a nível global. Nós provocamos essa mudança pelos nossos hábitos, pois a forma como nós consumimos hoje é uma forma predatória”.

O texto lembra que globalmente a natureza fornece serviços que podem chegar a US$ 125 trilhões por ano, como insumos básicos para medicamento, polinização natural das lavouras e sequestro de carbono da atmosfera.



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