A Semana Nacional de Conscientização da Perda e Desperdício de Alimentos acontece entre os dias 5 e 11 de novembro, com o objetivo de alertar a população e a cadeia produtiva para a enorme quantidade de produtos desperdiçados. Esse é o primeiro ano da campanha, que foi lançada pelo Ministério do Meio Ambiente no meio do ano e passa a fazer parte do calendário anual de mobilização contra o desperdício de alimentos.
Junto com outros parceiros, a iniciativa se soma à campanha #SemDesperdício da WWF Brasil, promovida junto com a Embrapa e a FAO/ONU desde 2016. O movimento da WWF nasceu para aproximar o tema do desperdício de alimentos da vida dos brasileiros, e para gerar um impacto positivo na mudança de hábitos do nosso consumo alimentar.
Quando se fala em alimentar o mundo, o Brasil é logo apontado como provedor honorário de alimentos para a população mundial. Tal expectativa não é fantasiosa: o país é hoje o maior produtor de açúcar, café e suco de laranja e um dos principais produtores e exportadores de soja e algodão, bem como carne bovina, de aves e suína.
O que não se fala é o custo ambiental desse título, uma vez que a produção de alimentos para os seres humanos e animais é uma das atividades que mais utiliza recursos naturais como água, energia, minerais e solo. Ela detém um terço da superfície terrestre do mundo e representa quase 70% do consumo de água, sendo a principal causa do desmatamento e de perda de biodiversidade no planeta.
E se em 2050 seremos mais de 9 bilhões de pessoas, com 70% delas vivendo nas cidades com maior renda e consumindo mais, como vamos garantir a sustentabilidade deste único planeta que temos?
Se não mudarmos a forma como produzimos e consumimos alimentos e obtemos na natureza os recursos para sustentar nosso modo de vida na Terra, a degradação da terra, o declínio da fertilidade do solo, o uso insustentável da água, a pesca excessiva e a degradação marinha irão diminuir a capacidade da base de recursos naturais de fornecer alimentos.
Comer é uma condição fundamental para a manutenção de nossas vidas. Nada tem mais impacto ambiental, social e econômico do que a nossa alimentação. Usamos um terço da superfície do mundo para produzir alimentos. No entanto, se você subtrair desertos, montanhas, lagos, rios, cidades e estradas, a produção de alimentos está espalhada por 58% da Terra.
E mesmo assim, a cada ano 7,3 bilhões de pessoas consomem 1,5 vezes mais do que os recursos naturais da Terra podem fornecer; 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados globalmente, enquanto 800 milhões de pessoas passam fome e 2 bilhões estão acima do peso ou obesas.
Ou seja, o problema não é produzir mais, e sim pensar modelos de produção e consumo de alimentos diferentes, capazes de tornar toda a cadeia mais coerente, com cada elo consciente de seu papel e com soluções de mitigação do problema adequadas à sua escala. Por exemplo, os consumidores que desde suas casas influenciam a cadeia produtiva por meio de suas escolhas e hábitos alimentares.
Por isso, os consumidores precisam estar mais sensibilizados e exigir mais informações sobre os sistemas de produção, desde a aquisição de matérias-primas até o processo de fabricação e o destino final. Conhecer a composição, as implicações e condições de processamento e de transporte do produto são alguns exemplos de informações que serão cada vez mais necessárias para compreender o consumo sustentável.
Reduzir o desperdício de alimentos pela metade até o ano de 2030 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável aprovados pelas Nações Unidas em 2015. Segundo a Global Footprint Network, uma organização de pesquisa internacional que tem ajudado a mudar a forma de pensar sobre os recursos naturais, a demanda alimentar representa 28% da pegada ecológica global e o desperdício, 9%. Se cortarmos o desperdício de alimentos pela metade em todo o mundo, por exemplo, seria possível postergar o “Dia da Sobrecarga da Terra” em 11 dias.
Atuar no tema do desperdício é fundamental para mitigar também os impactos da produção de alimentos. Nesse tópico, o WWF-Brasil identificou uma oportunidade de unir parceiros no enfrentamento do desperdício de alimentos no final da cadeia. Essa ideia parte do princípio de que é preciso dar acesso à informação visando empoderar e inspirar os consumidores a adotarem hábitos de consumo diferentes, menos agressivo à vida na Terra.
Segundo a “Pesquisa Akatu 2018 – Panorama do Consumo Consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações“, lançada em julho, “houve um crescimento significativo no segmento do consumidor ‘iniciante’, de 32%, em 2012, para 38%, em 2018 – o que mostra que o momento é de recrutamento dos consumidores indiferentes para hábitos mais sustentáveis de consumo.”
A pesquisa aponta que 76% dos brasileiros são os menos conscientes (“indiferentes” e “iniciantes”) em relação ao consumo e que o maior nível de consciência tem viés de idade, de qualificação social e educacional: 24% dos mais conscientes têm mais de 65 anos, 52% são da classe AB e 40% possuem ensino superior.
O segmento de consumidores mais conscientes (“engajados” e “conscientes”) é majoritariamente feminino e mais velho. Já o segmento dos “indiferentes”, o grupo menos consciente de todos, é majoritariamente mais jovem e masculino.
Dados da pesquisa sobre hábitos de consumo e desperdício de alimentos das famílias brasileiras revelam que, diariamente, cada família brasileira joga fora 353 gramas de comida, o que dá um alarmante total de 128,8 quilos de alimento que deixam de ser consumidos e vão para o lixo.
O ranking dos alimentos mais desperdiçados mostra arroz (22%), carne bovina (20%), feijão (16%) e frango (15%) com os maiores percentuais relativos ao total desperdiçado pela amostra pesquisada.
Carlos Eduardo Lourenço, professor de marketing da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), da FGV, afirma que a família brasileira desperdiça, em quantidade relativamente grande, até mesmo alimentos mais caros e proteicos, tais como carne bovina e frango. Entre os motivos do desperdício está a busca pelo sabor e a preferência pela abundância dos consumidores brasileiros. O não aproveitamento das sobras das refeições é o principal fator para o descarte de arroz e feijão.
Para Gustavo Porpino, analista da Embrapa, “ter uma despensa sempre abastecida é um traço cultural muito presente nas famílias brasileiras e, principalmente no contexto da classe média baixa, essa necessidade ocorre em função de a compra dos alimentos ser a prioridade do orçamento familiar. Essa nova pesquisa reforça achados anteriores de que a preferência pela fartura é um promotor de desperdício de alimentos”.
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