Foi lançada uma nova versão da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA), uma ferramenta on-line elaborada pelo Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC) da USP. É possível consultar a composição química e o valor energético de 1,9 mil alimentos consumidos pela população brasileira, incluindo crus e cozidos, versões com sal e sem, com óleo e temperos, além de produtos manufaturados e pratos compostos. A tabela pode ser consultada por quantidades de 100 gramas de alimentos ou por medidas caseiras como colheres de arroz ou conchas de feijão.
“A tabela fornece informações sobre 34 componentes, incluindo vitaminas e minerais, de alimentos que são os mais importantes para a população brasileira”, disse Elizabete Wenzel de Menezes, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e pesquisadora do FoRC, à Agência FAPESP.
A ferramenta também apresenta a composição nutricional de pratos típicos do país de acordo com as diferentes formas de preparação regionais. Um dos exemplo é o cuscuz, que pode ser só de milho em algumas regiões ou ter vários ingredientes, como na versão paulista. O site traz ainda uma parte de notícias com conteúdo sobre nutrição e alimentação saudável, chamada Alimentação sem Mitos.
Outras possibilidades oferecidas pela tabela aos usuários são as de buscas por nutrientes específicos, como alimentos fontes de proteínas dentro de um grupo específico, e de avaliar a ingestão energética de uma determinada refeição.
Para isso, o usuário precisa descrever até sete alimentos que ingeriu em uma determinada refeição. Com base nesses dados, a ferramenta calcula quanto ele ingeriu de energia. Uma unidade de rabanada, por exemplo, tem 50g e 157 kcal, enquanto um prato de sobremesa de salada de folhas com 70g tem apenas 42 kcal.
Fizemos um teste com um almoço muito comum em restaurantes de rua. O prato de arroz, feijão e bife, acompanhado por uma coca-cola e com uma paçoquinha de sobremesa, ultrapassou 1000 calorias. Assustador não?
“Isso é uma forma de as pessoas poderem fazer uma autoavaliação de algumas refeições sem deixar de buscar um profissional de nutrição para orientá-las, se necessário”, disse Menezes. A tabela também reúne dados compilados da composição química de alimentos pertencentes à biodiversidade brasileira, como o açaí.
“A base de dados de biodiversidade e alimentos regionais apresenta apenas informações analíticas originais, sem modificações ou agregação de dados. Porém, nos próximos anos, pode agregar novos dados produzidos por pesquisadores em estudos sobre a composição de vitaminas e minerais da cagaita [Eugenia dysenterica, fruta típica do Cerrado brasileiro] ou do maxixe [Cucumis anguria], por exemplo”, disse Menezes.
Os pesquisadores também pretendem desenvolver um aplicativo para celular que possibilite a uma pessoa na fila de um restaurante self service, por exemplo, decidir quais alimentos vai consumir e a quantidade deles com base em informações sobre o conteúdo energético.
Outra ideia é desenvolver um software que possibilite aos profissionais da nutrição prescrever dietas para seus pacientes com base em informações fornecidas pela tabela. “O uso desse software ficará restrito aos profissionais da área da nutrição para uso em consultório”, ressaltou Menezes.
A TBCA foi a primeira tabela de composição de alimentos disponibilizada de forma on-line na América Latina e, atualmente, é a mais abrangente feita no Brasil. Lançada em 1998 como resultado de um projeto incorporado pela Brazilian Network of Food Data Systems (Brasilfoods), a tabela idealizada por Menezes e por Franco Maria Lajolo, também professor da FCF-USP, vem sendo reformulada desde 2013, quando o trabalho de atualização passou a ser realizado por pesquisadores vinculados ao FoRC.
“O Centro de Pesquisa em Alimentos ajudou a atualizar a tabela de modo que possa ser usada nos próximos inquéritos alimentares da população brasileira”, disse Menezes.
Atualmente está sendo realizado no Brasil um novo inquérito nacional de consumo alimentar com o intuito de avaliar a ingestão de nutrientes pela população brasileira.
No último inquérito alimentar, realizado entre 2008 e 2009, não foi possível utilizar dados nutricionais de alimentos consumidos no Brasil uma vez que a versão da TBCA na época não tinha informação suficiente de vitaminas e minerais, e outras tabelas não apresentavam dados de alimentos preparados.
“Essa escassez de dados nutricionais de alimentos consumidos no Brasil dificultava a avaliação das informações desses inquéritos nacionais de forma mais abrangente”, avaliou Menezes. “Por isso, estabelecemos a meta de levantar essas informações”, afirmou.
Os dados da versão 6.0 da tabela também poderão ser utilizados na próxima Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Será a primeira vez que poderá ser feita uma avaliação nutricional da população brasileira com base em dados nacionais”, avaliou Menezes.
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