Áreas de expansão de cultivo da cana podem sofrer impactos das mudanças climáticas

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Crises hídricas e aumento da disputa pela água podem dificultar a irrigação em períodos de estiagem, aponta estudo feito por pesquisadores da Unicamp

As áreas de expansão de cultivo de cana-de-açúcar no país – compreendidas pelo extremo oeste do Estado de São Paulo e sul de Goiás – podem sofrer os impactos das mudanças climáticas previstos para essas regiões do Brasil, como o aumento da temperatura e da duração de períodos secos. A estimativa é de uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Os principais resultados do trabalho, apoiado pela Fapesp, foram reunidos no livro Planejamento da produção de cana-de-açúcar no contexto das mudanças climáticas globais, lançado em agosto pela Editora Unicamp.

“O estudo envolveu pesquisadores não só da área agrícola, como também de demografia, saúde, política científica e tecnológica, engenharia genética e divulgação científica, uma vez que as mudanças climáticas representam um problema que precisa ser abordado de formas multi e interdisciplinar”, disse Jurandir Zullo Junior, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp e coordenador do projeto, à Agência Fapesp.

Os pesquisadores do Cepagri, em colaboração com colegas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade de São Paulo (USP), têm gerado nos últimos anos cenários de possíveis impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira para diferentes culturas, como o café, o milho e a soja.

Por meio do projeto apoiado pela Fapesp eles se propuseram a gerar cenários para a cana-de-açúcar, uma vez que há interesse na ampliação das áreas de plantio da cultura no país com o intuito de atender à demanda por etanol. “A cana sempre aparecia como a única cultura agrícola no Brasil que apresentava vantagens em um cenário de mudanças climáticas. Por isso, decidimos confirmar ou refutar essa hipótese ao gerar cenários que envolvessem não só a parte agrícola, mas também outras áreas, e que fossem úteis aos tomadores de decisão sobre políticas públicas voltadas à adaptação do setor sucroalcooleiro nacional às mudanças climáticas”, disse Zullo.

Os pesquisadores estimaram os possíveis impactos das mudanças no clima na produtividade da cana em três áreas: na região de Ribeirão Preto – considerada uma área tradicional de plantio da cultura –, no extremo oeste de São Paulo e no sul de Goiás, denominadas regiões de expansão de produção da cana.

Segundo Zullo, nessas regiões de expansão tem sido observado um aumento da produção de cana em comparação com outras culturas agrícolas, principalmente em áreas antes destinadas à pecuária.

“Constatamos que tem ocorrido uma expansão da produção de cana nessas regiões, especialmente no sul de Goiás, que tem sido muito incentivada pelos próprios governos municipais, porque é uma forma de captarem um volume significativo de recursos para suas cidades”, disse.

As análises das simulações de cenários indicaram que a região tradicional de cultivo de cana não deve ter problemas relacionados a mudanças climáticas.

O problema maior nessa região, segundo os pesquisadores, é o de planejamento e escoamento da produção. “Há áreas produtivas de cana naquela região onde estão concentradas 14 usinas produzindo e competindo pela venda de etanol. Isso é prejudicial porque acaba tendo impacto no preço do produto”, disse Zullo.

Já as áreas de expansão da cana devem sofrer os impactos das mudanças climáticas, uma vez que necessitam da chamada “irrigação de salvamento” durante o período de estiagem, indicam os pesquisadores.

“Considerando o atual cenário de crises hídricas no país e de disputa pela água, essas regiões enfrentarão o desafio de assegurar água para irrigação de lavouras de cana e de outras culturas e, ao mesmo tempo, manter o abastecimento residencial e industrial”, disse Zullo.

Os pesquisadores também observaram que não tem havido uma preocupação dos programas de melhoramento genético da cana em desenvolver variedades mais bem adaptadas às mudanças climáticas.

“Os programas de melhoramento genético têm pensado mais em curto prazo, em questões como melhorias da produtividade, resistência a pragas ou adaptar uma variedade para uma região nova de cultivo. Mas nós não observamos uma preocupação de mais longo prazo, como desenvolver uma variedade mais adaptada aos estresses hídrico e térmico”, disse Zullo.

Planejamento da produção de cana-de-açúcar no contexto das mudanças climáticas globais

  • Organizadores: Jurandir Zullo Junior, André Furtado e Claudia Castellanos Pfeiffer
  • Lançamento: 2017
  • Preço: R$ 68,00
  • Páginas: 392
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