Imagem de Kim Carpenter em Unsplash
Se você pudesse ter uma idade pelo resto da vida, qual seria? Você escolheria ter nove anos, absolvido das responsabilidades mais tediosas da vida e, em vez disso, ser capaz de passar seus dias brincando com amigos e praticando a tabuada? Ou você escolheria o início dos 20 – quando o tempo parece não ter fim e o mundo é sua ostra –, com amigos, viagens, bares e baladinhas?
A cultura ocidental idealiza a juventude. Por isso, pode ser uma surpresa para você saber que, segundo uma pesquisa recente, a faixa etária apontada como a mais feliz é a dos 30 e poucos – e, mais precisamente, a idade de 36 anos.
No entanto, como psicóloga do desenvolvimento, achei que essa resposta fazia muito sentido.
Nos últimos quatro anos, estive estudando as experiências de pessoas na faixa dos 30 a 40 anos, e minhas pesquisas me levaram a acreditar que essa fase da vida, embora cheia de desafios, é muito mais gratificante do que pode parecer à primeira vista.
Como uma pesquisadora às vésperas dos 30 anos, eu queria ler e entender mais sobre a faixa etária em que estava prestes a entrar. Foi quando percebi que ninguém estava fazendo pesquisas sobre a fase que contempla dos 30 aos 40 anos – e isso me intrigou. Geralmente, é durante esse período que as pessoas compram uma casa própria, casam-se e/ou se divorciam, solidificam ou trocam de carreira e têm filhos – ou decidem não os ter.
Para estudar alguma coisa, atribuir um nome a ela pode ser muito útil. Então, meus colegas e eu chamamos o período de 30 a 45 anos de “idade adulta estabelecida” e, em seguida, começamos a tentar entendê-la melhor. Enquanto ainda coletávamos os dados, entrevistamos mais de 100 pessoas nessa faixa etária e reunimos informações de mais de 600 pessoas adicionais, oriundas de outras pesquisas.
Entramos neste projeto em grande escala esperando descobrir que os adultos estabelecidos eram felizes, mas nem tanto assim. Pensamos que haveria recompensas durante este período da vida – talvez estabelecer-se na carreira, na família e nas amizades, ou com picos físicos e cognitivos –, mas também alguns desafios importantes.
O principal desafio que antecipamos foi o que chamamos de “crise de carreira e cuidados”.
Esse conceito se refere à colisão entre as demandas do local de trabalho e as demandas de cuidados com os outros, o que ocorre entre os 30 e os 40 anos. Nessa fase, as pessoas se veem divididas entre alçar novos voos na carreira escolhida e a pressão para cuidar dos filhos, atender às necessidades dos parceiros e, talvez, cuidar dos pais idosos – e tudo isso pode gerar muito estresse e demandar grande esforço.
No entanto, quando começamos a olhar para nossos dados, o que encontramos nos surpreendeu.
Sim, as pessoas estavam se sentindo sobrecarregadas e falavam sobre ter muito o que fazer em pouco tempo. Mas elas também mencionaram uma profunda satisfação com a própria vida. Todas aquelas coisas que estavam causando estresse também traziam, ao mesmo tempo, enorme alegria para os entrevistados.
Por exemplo, Yuying, de 44 anos, disse que “embora haja pontos complicados neste período de tempo, sinto-me muito agora”. Nina, de 39, simplesmente se descreveu como sendo “extremamente feliz”. (Os nomes usados nesta peça são pseudônimos, conforme exigido pelo protocolo de pesquisa.)
Quando examinamos nossos dados ainda mais de perto, começamos a entender por que as pessoas têm preferência pelos 36 anos, em vez de outras idades: a sensação de estar no auge. Depois de anos trabalhando para desenvolver a carreira e os relacionamentos, os indivíduos entrevistados finalmente sentiam que haviam alcançado tudo o que queriam.
Mark, 36, compartilhou que, pelo menos para ele, “as coisas parecem mais no lugar”. “Eu montei uma máquina que finalmente tem todas as peças de que precisa”, disse ele.
Um suspiro de alívio após os turbulentos 20 e poucos anos
Além de sentirem que haviam conquistado o ápice da carreira, dos relacionamentos e das habilidades gerais da vida após mais de uma década de trabalho árduo, as pessoas também disseram que tinham mais autoconfiança e se entendiam melhor aos 36.
Jodie, 36, apreciou a sabedoria que adquiriu ao refletir sobre a vida além dos 20 anos:
“Agora você tem uma sólida década de experiência de vida. E o que você descobre sobre si mesmo é que não necessariamente o que você queria aos 20 anos estava errado – mas, na verdade, você tem a oportunidade de descobrir o que não quer e o que não vai funcionar para você (…). Então você chega aos 30 anos e não perde muito tempo saindo com meia dúzia de pessoas que provavelmente são as ideais, porque você já namorou antes e tem mais autoconfiança para dizer ‘não, obrigada’. Seu círculo de amigos se torna muito mais próximo, porque você elimina as pessoas que simplesmente não fazem falta na sua vida”.
A maioria dos adultos estabelecidos que entrevistamos parecia reconhecer que eram mais felizes aos 30 anos do que aos 20, e isso afetou a maneira como eles pensavam sobre alguns dos sinais de envelhecimento físico que estavam começando a encontrar. Por exemplo, Lisa, de 37, disse: “Se eu pudesse voltar ao que era fisicamente, mas também tivesse que voltar emocionalmente e mentalmente… De jeito nenhum. Eu prefiro encontrar rugas novas no rosto todos os dias”.
Nossa pesquisa deve ser vista com algumas ressalvas.
As entrevistas foram realizadas principalmente com cidadãos norte-americanos de classe média, e muitos dos participantes são brancos. Para aqueles que pertencem à classe trabalhadora, ou para aqueles que tiveram de enfrentar décadas de racismo sistêmico, a idade adulta estabelecida pode não ser tão animadora.
Também é importante notar que a crise de carreiras e cuidados foi exacerbada, especialmente para as mulheres, pela pandemia de COVID-19. Por esse motivo, a pandemia pode estar levando a uma diminuição na satisfação com a vida, especialmente para adultos estabelecidos que são pais e que buscam carreiras em tempo integral – e creches em tempo integral.
Ao mesmo tempo, o fato de as pessoas pensarem nos 30 anos, e não nos 20 ou na adolescência, como o ponto ideal de suas vidas sugere que este é um período da vida ao qual devemos prestar mais atenção.
E isso está acontecendo lentamente. Além do meu próprio trabalho, há um excelente livro sobre o assunto, escrito por Kayleen Shaefer, chamado Mas você ainda é tão jovem. A obra explora a vida de pessoas que navegam pela casa dos 30 anos, relatando histórias de mudanças na carreira, de aventuras nos relacionamentos afetivos e de questões típicas da faixa etária, como a fertilidade.
Meus colegas e eu esperamos que nosso trabalho e o livro de Shaefer sejam apenas o começo. Ter uma melhor compreensão dos desafios e recompensas da idade adulta estabelecida dará à sociedade mais ferramentas para apoiar as pessoas durante esse período, garantindo que essa era de ouro forneça não apenas memórias que serão vistas com carinho no futuro, mas também uma base sólida para o resto do nossas vidas.
Este texto foi originalmente escrito por Clare Mehta para o The Conversation e traduzido por Isabela Talarico para o Portal eCycle de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original
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