Mudanças no uso do solo são principal fator de degradação da qualidade da água dos rios no Brasil

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Estudo ressalta importância de conservação de florestas e da gestão de recursos naturais para evitar degradação de recursos hídricos

Mapa do rio Tietê perto de Ibitinga, Brasil. Lavanda, roxo e azul indicam plantações. Amarelo claro ou branco indicam pouco ou nenhum crescimento da vegetação. Manchas de amarelo mostarda escuro são áreas urbanas. Imagem de USGS no Unsplash

Uma pesquisa desenvolvida no Instituto de Biociências (IB) da USP mostrou que mudanças no padrão de uso do solo e da cobertura da terra são o principal fator de degradação da qualidade da água dos rios brasileiros. De acordo com os resultados, agricultura e urbanização são os principais responsáveis por essa degradação. O artigo também ressalta a importância da conservação de florestas para evitar a deterioração dos recursos hídricos, e da tomada de decisões sobre gestão de recursos naturais baseadas em ciência.

O artigo Multiscale land use impacts on water quality: Assessment, planning, and future perspectives in Brazil foi publicado na revista científica Journal of Environmental Management em maio de 2020.

A ideia para o trabalho surgiu em 2017, durante o Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. “Eu organizei um evento neste simpósio sobre as relações entre o uso do solo e qualidade da água e reuni outros pesquisadores para serem palestrantes. Nas discussões com o público levantamos uma necessidade de um estudo com abrangência nacional sobre o impacto do uso do solo na qualidade da água dos rios brasileiros”, conta a bióloga Kaline Mello, do Departamento de Ecologia do IB e primeira autora do artigo.

Os pesquisadores analisaram as relações entre os diferentes tipos de uso do solo e a qualidade da água. Para isso, foi feito um trabalho de revisão, ou seja, um compilado de muitos estudos desenvolvidos no Brasil todo. “Fizemos um trabalho de revisão de todos os biomas brasileiros. Como todos os autores do artigo são da área, utilizamos muitos trabalhos nossos. Todos possuem experiência em campo e com dados coletados”, detalha Kaline ao Jornal da USP.

Segundo os resultados da revisão, a agricultura e a urbanização são os principais fatores de alteração do uso do solo responsáveis pela degradação da qualidade da água. A pesquisadora explica que as mudanças no uso e cobertura da terra retiram a proteção do solo.

“Quando há um ecossistema natural em uma bacia hidrográfica, a vegetação nativa ajuda a minimizar o impacto das chuvas. A partir do momento em que essa vegetação é retirada, a proteção também é. Então, o impacto da chuva diretamente no solo traz os poluentes, como os da agricultura (fertilizantes, insumos, defensivos agrícolas), da mineração (metais pesados) e da urbanização (poluentes das ruas). É um grande fator impactante nas águas porque gera muito esgoto e isso impacta a qualidade dos rios”, explica Kaline.

Intensidade e consequências dos impactos

A intensidade dos padrões de uso e cobertura do solo vai determinar o nível dos impactos na qualidade da água. Em áreas urbanas onde há saneamento básico e proteção da vegetação ao longo dos rios, por exemplo, a qualidade da água será maior em comparação a cidades que não possuem essas estruturas. A agricultura segue a mesma lógica. “Se há uma agricultura que usa muito defensivo agrícola, não tem nenhuma boa prática agrícola para evitar que as partículas de terra, defensivos e componentes químicos cheguem aos rios, o impacto nas águas será maior”, conta a pesquisadora.

Outro achado interessante do estudo que Kaline destaca é a mineração. Apesar de representar uma pouca porcentagem do território brasileiro, os impactos desta atividade na qualidade da água são muito grandes.

Além dos impactos que acontecem nos rios brasileiros, a saúde humana também pode ser afetada. “Podem surgir problemas com doenças como diarreia e com consumo de peixe contaminado por metal pesado”, exemplifica Kaline. O impacto econômico também precisa ser levado em consideração, já que, quanto mais os rios são poluídos, maior o custo de tratamento da água para abastecimento público.

De acordo com a bióloga, o planejamento e a modelagem de bacias hidrográficas podem ajudar na redução dos impactos na qualidade da água causados pelas mudanças no uso do solo. A partir dessas ferramentas é possível desenvolver modelos que preveem o aumento das áreas urbanas, agrícolas e de mineração, modelando assim o impacto na qualidade da água. Também é possível usar a modelagem para avaliar impactos positivos da restauração de ecossistemas naturais, por exemplo, avaliando como a restauração das florestas se relaciona com a qualidade da água dos rios.

O estudo busca chamar a atenção da população justamente para a importância da conservação e da proteção de ecossistemas importantes que protegem os rios do Brasil.

“Queremos chamar atenção para o fato de que não podemos fechar os olhos para o desmatamento porque nos afeta diretamente. Essas áreas são importantes para conservação dos recursos que nós utilizamos e nós seremos os maiores prejudicados”, finaliza a pesquisadora.


Fonte: Jornal USP


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